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João Sayad: A memória do economista

Etimologicamente, tradição é uma palavra com origem no termo em latim traditio, que significa “entregar” ou “passar adiante”. A tradição é a transmissão de costumes, comportamentos, me mórias, rumores, crenças e lendas, para pessoas de uma comunidade, sendo que os elementos transmitidos passam a integrar e influenciar a cultura. Outro não é o escopo da excelente iniciativa de se instituir uma entidade destinada à preservação das tradições libanesas por seus nacionais e descendentes perante o Brasil.

Nascido na cidade de São Paulo em 1945, João Sayad, Patrono da Cadeira número 19 da Academia Líbano Brasileira de Letras, Artes e Ciências, foi um economista formado pela Faculdade de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo (USP) em 1967. Após sua graduação, passou a integrar o corpo docente do Departamento de Economia da mesma instituição, e alguns anos mais tarde, em 1970, concluiu seu mestrado em economia no Instituto de Pesquisas Econômicas (IPE) da FEA-USP.

Em 1973, se mudou para os Estados Unidos, onde obteve, na Universidade de Yale, o título de Master of Arts.

Três anos mais tarde, em 1976, concluiu sua formação acadêmica na universidade americana com o grau de Philosophy Doctor (PhD) em economia. Em 1978, de volta ao Brasil, tornou-se livre-docente do Departamento de Economia da FEA-USP.

Em 1983, após anos dedicados à vida acadêmica, João Sayad se tornou Secretário Estadual da Fazenda de São Paulo, durante os dois primeiros anos do governo de Franco Montoro. Em 1985, diante dos bons resultados obtidos durante a sua gestão à frente da Secretaria da Fazenda, foi convidado para assumir o Ministério do Planejamento do Governo de Tancredo Neves, que logo após sua morte, foi assumido por seu companheiro de chapa, José Sarney.

Após assumir o Ministério, João Sayad começou a divergir do então Ministro da Fazenda, Francisco Dornelles, que defendia uma política econômica de juros altos e corte nos gastos públicos, ao passo que Sayad apoiava abertamente a redução da taxa de juros pelo Banco Central, o que resultou na criação de duas correntes econômicas antagônicas dentro do governo.

Sem o apoio político necessário para manter um rígido controle das políticas monetária e fiscal, e após o apoio do Presidente Sarney ao Plano de Metas desenvolvido por Sayad, Francisco Dornelles pediu demissão em setembro de 1985, tendo sido substituído por Dilson Funaro, que juntamente com João Sayad, foi incumbido de reduzir a inflação do país até abril de 1986.

Assim, em março de 1986, José Sarney anunciou a criação de um Plano de Estabilização Econômica (PEE), elaborado por João Sayad em conjunto com João Manuel Cardoso de Mello e Luiz Gonzaga Belluzzo, que ficou conhecido como Plano Cruzado. O plano trazia um conjunto de medidas econômicas lançadas pelo governo com o objetivo de conter o processo inflacionário desenfreado que assolava o país.

Dentre as principais medidas adotadas, a principal marca do Plano Cruzado foi o congelamento de preços, que previa um tabelamento oficial a ser seguido para impedir o aumento constante nos valores das mercadorias e serviços, e que poderia ser suspenso a qualquer momento pelo Poder Executivo.

De início, o Plano Cruzado conseguiu reduzir significativamente a inflação, o que foi visto com bons olhos por grande parte da população.

Contudo, o plano começou a se mostrar ineficaz justamente devido ao desequilíbrio dos preços. Como os produtores e empresários não podiam reajustar o valor de suas mercadorias, a produção de vários produtos e serviços foi ficando cada vez mais deficiente, resultando no desabastecimento de bens e no surgimento de ágio para a compra de produtos escassos. Além disso, com o passar dos meses, foi se tornando cada vez mais evidente que o governo não havia implementado nenhuma grande medida que fosse capaz de contornar o desequilíbrio das contas públicas, o que contribuía com o processo inflacionário.

Diante dos problemas apresentados, a equipe econômica do governo começou a perceber a necessidade de partir para outro estágio da política recém-lançada. Assim, em julho de 1986, foi anunciado um novo pacote de medidas conhecido como “Cruzadinho”.

O novo pacote criou o Fundo Nacional de Desenvolvimento (FND), desenvolvido por João Sayad, e anunciou a criação de um sistema de empréstimos compulsórios sobre duas categorias de produtos — gasolina e automóveis – que seriam restituídos após três anos, e impostos não-restituíveis sobre a compra de moedas estrangeiras e passagens aéreas internacionais.

O novo plano não obteve o resultado previsto, e o governo precisou focar em um novo planejamento econômico. Assim, após as eleições de novembro de 1986, foi implementado o Plano Cruzado II. A última aposta da equipe econômica foi em um novo conjunto de medidas que aumentou impostos indiretos, reajustou preços de bens e serviços que estavam defasados, concedeu alguns subsídios para as exportações, e expurgou do índice da inflação as variações de preços de produtos considerados supérfluos.

Apesar de apresentar algumas diferenças em relação ao Plano Cruzado I, mais uma vez a proposta do governo não se mostrou eficaz na estabilização da inflação, uma vez que as novas medidas acabaram trazendo à tona toda a inflação reprimida durante o período de congelamento de preços. Assim, chegava ao fim o Plano Cruzado.

Em fevereiro de 1987, João Sayad se afastou do Ministério do Planejamento para tratar um quadro de meningite. Ao retornar, apresentou ao Presidente Sarney um novo plano de estabilização da economia, não tendo recebido apoio do então Ministro da Fazenda, Dilson Funaro. Desgastado, em março de 1987, Sayad pediu demissão e retornou à área acadêmica.

Em 1988, juntamente com Philippe Reichstul e Francisco Luna, fundou o Banco SRL S.A, posteriormente adquirido pelo American Express Bank.

Entre os anos de 2001 e 2004, durante o governo de Marta Suplicy, foi Secretário Municipal de Finanças da cidade de São Paulo. Em setembro de 2004, foi nomeado vice- presidente de Administração e Finanças do Banco Interamericano de Desenvolvimento em Washington (2004-2006).

Em 2007, durante o governo de José Serra, foi nomeado Secretário da Cultura de São Paulo, tendo permanecido no cargo até 2010. Ocupou também o cargo de Presidente da TV Cultura entre os anos de 2010 e 2012.

Durante toda sua trajetória profissional, Sayad ocupou diversos cargos de relevância e foi também autor dos livros “Que país é este?”, uma reunião de seus artigos acadêmicos e de opinião publicado em 2009, e “Dinheiro, dinheiro: Inflação, desemprego, crises financeiras e bancos”, publicado em 2015.

João Sayad faleceu em São Paulo, em 05 de setembro de 2021, aos 75 anos de idade, vítima de um câncer.

é professor e desembargador Federal do Tribunal Regional Federal da Segunda Região; membro da Academia Líbano-Brasileira, cadeira N°19.

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