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Chegar, ver, laborar e vencer: História Libanesa com certeza

Há muito tempo me intrigam os contrastes e contradições do Líbano.

Um pequeno país, ao mesmo tempo gigantesco e imponente.

Com uma surpreendente e insuperável fortaleza, embora agredido por incidentes e acidentes.

Pleno de sólidas tradições, mas igualmente arrojado e contemporâneo. Apesar das mazelas e percalços, palco de manifestações artísticas e expressões culturais de imenso valor.

Hoje, país que luta para seguir em frente, alimentar seu povo, cuidar de suas crianças, curar seus doentes, num contexto de carências e ocorrências que o ferem dia a dia.

Busco entender as contradições libanesas sempre que vou ao País dos Cedros de Deus e a cada momento em que recebo notícias da pátria de meus ancestrais.

Não é simples encontrar as respostas, que podem residir na composição única e particular desse admirável país, em sua história rica, secular e incomparável.

Vejam meu caso: sou de origem inteiramente libanesa. Pais, avós, bisavós, trisavós, tetravós, tios, tias, madrinha, padrinho… antepassados e ancestrais, todos libaneses e libanesas!

Nascida no Brasil, mas de berço genético, simbólico e metafórico libanês, convivi diariamente, desde que abri os olhos para este mundo, com os falares, valores, ações e reações de minha família, genuinamente libanesa.

É com meu avô, Chalita Saade, que tem início a história de minha família no Brasil, quando ele aqui desembarca, nos anos 1880, vindo de Beit Menzer, vilarejo no Norte do Líbano. Como tantos compatriotas o fizeram, fugindo do domínio otomano, da falta de condições de trabalho e vida digna, da desesperança em dar aos seus uma vida melhor, deixando para trás a família, amigos, raízes e toda a sua história. (cont)

Os primeiros que aqui chegaram, tal como meu avô, logo se puseram a criar as bases do trabalho e da adaptação ao novo país, mostrando e provando ao mundo que libaneses são feitos de matéria especial, que não se intimidam quando é preciso chegar, ver e vencer.

E após meses, por vezes anos, de labuta incessante, não tardavam a trazer do Líbano os filhos que lá deixaram, e que, uma vez em terra brasileira, já entravam na marcha corrente do trabalho cavado, iniciado e, quase sempre, já sedimentado pelos pais.

Assim foi com meu avô Chalita Saade, desde que chega à América – então designação genérica dessa parte do mundo onde repousava a esperança de vida melhor para os libaneses – e se instala, cheio de esperança e vontade de vencer, na cidade de Conceição de Macabu, no norte do Estado do Rio de Janeiro.

Traz consigo o primogênito, Youssef, para ajudá-lo nos negócios e no comércio de produtos e tecidos, iniciando a saga que daria origem a uma bela e numerosa descendência libanesa no Brasil.

Reforçando a vocação fenícia que lhe corria nas veias, meu avô comprava produtos variados na capital e seguia pelo interior do Estado, parando de cidade em cidade, abrindo suas malas, conquistando os fregueses, revendendo seus artigos, fazendo novos amigos, e construindo o pé-de-meia que lhe daria autonomia e vida digna no novo continente.

Com o progresso dos negócios no Brasil, Chalita Saade traz do Líbano mais dois filhos, Hanna (aqui passando a se chamar de João) e o caçula Sayd, meu pai, cuja vontade verdadeira era estudar medicina e se tornar doutor com louvor.

Mas a herança fenícia, a autoridade paterna e a necessidade de reafirmar a tradição laboriosa da família o recolocaram no caminho do comércio aberto pelo pai. E não decepcionou.

Juntamente com o irmão, Sayd trabalhou com seriedade e afinco, ajudando meu avô a consolidar e a fazer crescer o negócio que iniciara ainda no século 19.

Foram tão bem-sucedidos que, com o crescimento e a prosperidade dos negócios no interior do Estado, João e Sayd Chalita Saade se mudaram para a cidade maravilhosa, abrindo uma loja de tecidos na Praça da República, centro do Rio. Transformaram-se, quem diria, nos maiores atacadistas de tecido na cidade, vendendo também grandes fardos de mercadoria para outras regiões do Brasil.

Os filhos de Chalita Saade tornaram-se referência para os imigrantes que vinham do norte do Líbano para o Rio de Janeiro, aos quais estendiam a mão, acolhiam sem interesse, e emprestavam moradias para que conseguissem deslanchar sua nova vida no Brasil.

Hoje, tenho imenso orgulho em proclamar que meu avô Chalita Saade e meu pai Sayd, juntamente com meus tios, foram corajosos desbravadores desse país, então desconhecido, e ajudaram a construir, com força e coragem, trabalho e amor, a terra brasileira que os acolheu.

Valorosos homens e mulheres que trazem em si a marca de serem libaneses. Provêm de um grandioso país, pequeno em extensão e imenso em conhecimento e história, gigantesco em educação e cultura, impressionante na capacidade de se reerguer e se reinventar. Berço do alfabeto e da mais antiga cidade do mundo, arena da união de gregos e romanos, palco de milagres do Cristo e da passagem de povos e culturas.

Este é o Líbano. Assim são os libaneses.

Vice-presidente da Academia Líbano-Brasileira; é educadora, escritora, tradutora, conferencista, profissional de mídia e comunicação, presidente da Aliança Francesa do Rio de Janeiro e membro da Academia Líbano-Brasileira, cadeira N° 22.

1 Comment

  1. Isso é muito legal. Estou vendo as origens da família Saads e acredito que Pedro (Boutros) Elias Saads, de origem libanesa, era irmão de Michael Elias Saads – que veio na imigração libanesa.

    Sempre que recebo um informações novas de minha origem libanesa, adiciono ao site Familysearch. Também deixo minha recomendação a todos que são descendentes de libaneses: sempre que possível, registrem as informações e não deixem a história morrer. O familysearch possui um ambiente rico de informações e registros, mas o mais importante é manter a história viva

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