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Rota da seda no Líbano: Camponês saciado, Sultão escondido

“Mesmo que a rota da minha vida me conduza a uma estrela, nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos do mundo.” (José Saramago).

O provérbio libanês “فلاح مكفي سلطان مخفي” (fellah mekfi, sultan mukhfi – um camponês saciado é um sultão oculto) dá a dica para entender a história do Líbano, pois temos que compreender a característica de seu povo ao longo de sua formação. A natureza agrícola do Líbano, que persistiu por séculos, fez do país uma república das aldeias e não das cidades.

A vida girava em torno dos vilarejos e seus moradores costumavam cultivar todo tipo de vegetal e frutos para o consumo das famílias, mas eles tinham uma fonte de renda extra que vinha da comercialização da seda, cuja matéria prima era extraída do cultivo da amora (tut, em árabe), uma vez que suas folhas serviam de alimento para as lagartas do bicho-da-seda, produtoras dessa seda.

No século IV a.C., sob o Império de Ciro (556-530 a.C.), os Persas abriram as rotas das caravanas de seda chinesa – tecida e crua – para a Fenícia. Portanto, a história da seda no Líbano remonta há mais de dois mil anos, época do famoso corante roxo, quando os fenícios nas cidades de Sidon e Tiro extraíam a ardósia murex para produzir a seda imperial.

Durante o reinado do imperador Justiniano no século VII d.C., a indústria da seda se desenvolveu nas montanhas libanesas sob o domínio do príncipe Fakhr al-Din, e que incluía também a costa. A verdade é que o Líbano foi uma das estações da Rota da Seda que atravessava a região árabe e chegava até a Índia e China, sem esquecer, é claro, a cidade de Roma.

Em 1841, Prosper, Nicolas, Joseph e Antoine Fortuny Portales construíram a primeira fábrica para desamarrar casulos e fiar seda, a chamada كرخانة (Kerkhaneh) na cidade de Btater, na região de Chouf.

Naquela época, eles trouxeram da França grupos de fiandeiras profissionais para treinar as mulheres. Esta foi a primeira vez que as mulheres saíram de casa para trabalhar, o que causou uma revolução social neste ambiente rural tradicional.

É importante mencionar que o transporte dos casulos e seda entre os portos de Beirute e Marselha teve como resultado o estabelecimento no Líbano de empresas de transporte marítimo, os empréstimos concedidos a corretores e comerciantes, a abertura de centros de financiamento, a criação do primeiro banco libanês e o desenvolvimento do porto de Beirute.

Com o passar do tempo, a seda libanesa começava a sofrer uma intensa competição externa, e o cultivo das amoreiras foi diminuindo também no interior e nas montanhas. Por outro lado, as necessidades do mercado eram supridas por iniciativas individuais, tendo à frente a indústria do cultivo de videiras, em franca expansão à época, e que trazia com ela a uva, o vinho, as passas, o melaço, as azeitonas, o tabaco, a cana-de-açúcar, a banana, e outros produtos agrícolas.

Hoje em dia, a amora ainda é plantada e cultivada nas aldeias do país, transportando no seu bojo a saudade dum tempo romântico e a biografia exuberante das montanhas do Líbano. O resto…bem o resto são contos de libanês.

 

*Da Redação

Equipe da Revista e do Blog

2 Comments

  1. LIBANUS
    • Maravilhosa apresentação
    • Por favor, não deixem de enviar, sempre que possível.

    Fazendo a Genealogia(faz mais de 30 anos) de meus familiares maternos, procedentes, em suas raízes, da VILA DE SCHMUT, em 1554, hoje Líbano, aprecio, por demais, nossa literatura árabe, mesmo nada sabendo ler, nem falar. Mas, o importante é o sentimento declarado em cada palavra e que, a mim, por demais toca. Apreciei demais esta publicação e me permito arquivar em minhas notas. Gostaria de receber, sempre que puderem, seus apontamentos. Meus cumprimentos e prossigam. Os senhores, do Líbano, muito preservam suas origens(?)

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  2. Muito lindo!

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