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Suplemento Especial: 100 anos de Salim Miguel

Salim Miguel cem anos, este é o conteúdo do suplemento especial da Revista Libanus, uma homenagem ao grande escritor, jornalista, livreiro, editor, ensaísta, cineasta, animador cultural, patrono da Academia Líbano-brasileira de Letras, Artes e Ciências (ALB), que virou eternidade. Salim veio ao mundo em 30 de janeiro de 1924, no Líbano, no vilarejo de Kfarssaroun, e morreu em 22 de abril de 2016, em Brasília (DF).
Em 18 de maio de 1927 Salim e sua família chegam ao Cais do Porto, na Praça Mauá, no Rio de Janeiro, em seguida vão para Magé, na Baixada Fluminense, depois passam a viver em Biguaçu (SC) e, também, em Florianópolis, no mesmo estado. Aí está o início da grande aventura desse líbano-biguaçuense.
Aqui iremos oferecer palavras que buscam dar voz a um sentimento, buscam concretizar a beleza e a sensibilidade que nos proporcionam a robusta obra de Salim Miguel. São muitos atributos e desafios, uma vida marcada por afetos e “aproximações”.
Algumas das belezas e os caminhos para mergulharmos no universo literário de Salim Miguel estão neste suplemento. Para quem conhece sua obra esta é uma oportunidade de reler e se aprofundar e, para quem desconhece, certamente, será oportunidade para ter o prazer de desvendar os enigmas, pois, sua prosa flui lindamente e é possível perceber a sua vontade, o seu compromisso, em fazer a literatura crescer.
Ler é o verbo cuja origem vem do latim legere e, desde os primórdios, significa colher, escolher, recolher, pois essa era a prática dos antigos romanos, quando selecionavam, por exemplo, os cereais, os frutos. A raiz etimológica desse verbete está presente no termo eleger, e isso nos faz refletir sobre a nossa realidade atual, estamos deixando de escolher, pois os algoritmos das redes sociais assumem esse protagonismo, colhendo os nossos frutos. Cada vez mais somos escolhidos, estão ditando as nossas escolhas, cada vez mais somos objeto de apelos que nos convertem em números, em estatísticas.
E ao escolhermos a obra de Salim Miguel percebemos que podemos ser os protagonistas das nossas histórias, podemos escolher que história contar, dando vez à vida, ao sentimento, porque é assim que se aprende sobre o amor e que se aprende sobre a resistência, sobre a resiliência, se aprende sobre as letras e a literatura e como elas podem mudar as pessoas.

Salim é um amante da leitura e com a sua obra somos capazes de concretizar o sentido atual da palavra ler, isto é, obter informações por meio da percepção das letras, já que assim desenvolvemos a capacidade de escolher e definir corretamente letras e palavras, passamos a “colher com os olhos”.    

Tive a honra de ser convidada pela Fundação Catarinense de Cultura para escrever um ensaio, com vários outros escritores, conhecedores e admiradores da obra de Salim Miguel, em homenagem aos seus 50 anos de produção literária no Brasil. Lá escrevi Layla iluminada como contraponto ao seu maravilhoso romance Nur na escuridão. O livro Salim na Claridade, publicado em 2001, organizado por Flávio José Cardozo, expressa o quanto Salim Miguel sabia fazer da palavra impressa o seu instrumento de sentir o mundo, ele que estava sempre a recriar, a recriar-se e a lembrar que o autor escreve e o leitor reescreve.

Salim Miguel escreveu uma linda história em todos os sentidos e qual não foi minha alegria ao saber que ele me dedicara o conto Marulho, no livro Mare nostrum, romance desmontável, publicado em 2004. Um romance polifônico, que nos remete a várias narrativas, a personagens e a vários lugares no mundo e, também, à nossa aldeia, ancorados na temática do mar. Tem, como em Nur, uma estrutura narrativa que lembra  As mil e uma noites, dando asas à imaginação. Ele faz a ligação entre um texto e outro por meio de um nome, de um som, de uma frase, de uma situação. Salim observa que jamais conseguiu escrever um romance convencional, com começo, meio e fim. Para ele, situações e personagens surgem e reaparecem, ou não, como na própria vida, e a imaginação é que costura tudo. Marulho não é somente o barulho causado pelo vaivém das águas do mar, mas é a tradução da nossa inquietação, o aguçar da nossa curiosidade.

E agora, na condição de editora da revista Libanus, prestamos esta nova homenagem.  Nur é um romance amoroso, pleno em afeto, e oferece aos leitores a crença de que a vida humana merece ser vivida, em que pesem os sofrimentos imputados pelos humanos a si mesmos e a outros seres. Como a fênix, estamos sempre renascendo!

Salim, que em árabe significa o pacificador, queria que os descendentes de libaneses descobrissem que eles são um povo que lutou e trabalhou para formar o Brasil. Por isso misturou fatos reais da história da sua vida com ficção, para assim um maior número de pessoas ver a sua saga refletida em Nur na escuridão.

Para discorrer sobre a obra de Salim Miguel me ancoro em Immanuel Kant, que distingue dois fenômenos muito próximos, o belo e o sublime. O belo, gracioso e aprazível, o que nos pacifica e nos alegra, e o sublime, que traz algo do que é belo mas é atravessado pelo espanto, pela surpresa, algo assombroso.

Assim é a obra de Salim Miguel, bela e sublime, ler seus livros, seus romances, seus contos, suas entrevistas, conversar com Salim, conhecer sua história generosa, seu mundo, reflexo esculpido do que há de melhor na humanidade, nos reconhecermos na sua ancestralidade, é sempre uma oportunidade de refletir sobre a vida, de nos comovermos, de reforçarmos a rede de afetos, de nos aproximarmos, de nos admirarmos com o simples, com o trivial, com o cotidiano e descobrirmos uma riqueza enorme na sua subjetividade tão inspiradora.

Convidamos a participarem deste suplemento a família de Salim e Eglê, filhas(os) e netas(os), a ela nos juntamos nesta linda homenagem do centenário. Como iniciativa alvissareira, sua família nos presenteia agora com o site www.salimmiguel100anos.com.br, que está fantástico.

Aqui vocês irão encontrar uma linha do tempo, uma cronologia de Salim Miguel, uma galeria de fotografias eternizando os momentos mais significativos. Inclusive, destaque-se, o verbete fotografia vem do grego “gravar com luz”.

Reeditamos a entrevista realizada, em 01/10/2008, por José Castello, para Paiol Literário — projeto realizado pelo jornal Rascunho, em parceria com a Fundação Cultural de Curitiba e o Sesi Paraná.

Reeditamos a crônica de Salim Miguel intitulada: George, o primo de Washington, publicada, originalmente, em 29 de maio de 1998, na Gazeta Mercantil.

Aqui contamos com a valiosa participação de Antonio Carlos Miguel, jornalista, filho de Salim Miguel e nosso confrade acadêmico da ALB, que nos brinda com o artigo À procura de sentimentos vividos.

Apresentamos o artigo Nur na Escuridão – Uma Luz na História da Imigração no Brasil da escritora, dramaturga e professora Muna Omran, nossa confreira acadêmica da ALB, que ocupa a cadeira  de número 25, cujo patrono é Salim Miguel.

Marcos Moussallem, chefe de gabinete do Cônsul-Geral do Líbano, no Rio de Janeiro, engenhosamente imagina a trilha sonora de Salim Miguel e nos brinda com um texto sensível, intitulado À procura da trilha sonora de Salim Miguel.

Contamos com o texto da jornalista e cineasta Adriane Canan, que aceitou o nosso convite para falar de Eglê e as muitas Eglês, ela, uma mulher plural e generosa, muito à frente do seu tempo, professora e escritora, a primeira cineasta catarinense, tradutora, editora, primeira mulher a se formar na Faculdade de Direito, em Santa Catarina, que criou e integrou o Grupo Sul, crítica da obra e companheira eterna de Salim.

As homenagens continuam com o texto de Samir Barghouti, professor, acadêmico e confrade da ALB, em que apresenta Poemas para Salim, na versão em árabe e respectiva tradução para a língua portuguesa, em que escolhe duas referências literárias, o maior poeta libanês de todos os tempos, Said Akl, e o poeta sírio Nizar Qabbani, um dos poetas mais declamados e recitados do mundo árabe.

Contamos com o precioso artigo do neto de Salim, Jorge Luiz, intitulado Memórias de exílios no Rio – Algumas palavras à guisa de apresentação do livro inacabado. A leitura deste texto é imperdível. Lembrando que Jorge Luiz conviveu muito com os avós e passou a ler para Salim Miguel, quando a visão do nosso homenageado ficou reduzida e já não mais respondia.

Jorge Luiz, assim como Eglê, foi a luz dos olhos do Salim, assim como Salim foi a luz dos olhos do livreiro e poeta cego de Biguaçu, João Mendes. Quanta amorosidade e generosidade envolvidas neste gesto!

O resgate do desejo de sonhar está muito presente na sua obra, há sempre novos horizontes e marcas de esperanças, há ali uma paixão pela vida que não pode ser esquecida, sabe como poucos tornar compreensível uma realidade fugidia por meio de palavras plenas em grande vivência, imaginação e compaixão. Salim junta passado e presente, vida e morte, memória e imaginação num mesmo espaço. Uma soma de força e delicadeza que nos propicia uma das mais belas viagens que os amantes da linguagem e da literatura podem realizar, é a luz dos nossos olhos.

Agradecemos especialmente ao Cônsul-geral do Líbano no Rio de Janeiro, Alejandro Bitar, que nos brindou com um texto bastante reflexivo e sugestivo nos tempos atuais: Salim Miguel: da escuridão para a luz   

E mais, por meio do belíssimo ensaio fotográfico de Ghabi Hajj, que é do mesmo vilarejo de Salim, convidamos vocês para um passeio em Kfarssaroun, Koura, ao norte do Líbano, o vilarejo original de Salim Miguel.

A todos e todas, desde já, nossa gratidão pela participação e pelos aportes tão valiosos. Agradeço aos parceiros que integram o corpo editorial da Libanus Samir Barghouti, Marcos Moussallem e Soraya Kassouf Sad.

Há mais de duas décadas quando leio, releio e revisito as obras de Salim Miguel, sinto a potência do seu trabalho, do seu fazer literário, me tocarem e me afetarem de modo profundo, reforçando o nosso olhar sobre a importância da cultura, da leitura, da literatura, do livro, sobre o nosso compromisso com a humanidade e com a construção de um mundo melhor, mais justo, em que o amor e a dignidade humana prevaleçam.  Há luz na escuridão! Salim Miguel é eternidade!

Boa leitura!

é advogada, professora da UFRJ, presidenta do Instituto Latinoamericano del Ombudsman-Defensorías del Pueblo (ILO) e editora da Revista Libanus; membro Academia Líbano-Brasileira, cadeira N° 33.

1 Comment

  1. Nem tenho palavras para a grandiosidade dessa edição, particularmente, pois vem permeada de memória afetiva.
    DRA. Cristina Riche é a pessoa certa, no lugar certo…só agradeço a oportunidade de apreciação.
    Parabéns ao Sr Consul, pela iniciativa, ao Sr. Marcos por alinhavar tudo, à cineasta e todos os que estão nessa bela jornada.
    Parabéns, parabéns, parabéns👏🏻👏🏻👏🏻

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