O que é um intelectual? Qual sua função? Como ele pode manter uma relação de independência com o poder? O que é ser ou estar fora do lugar? O que é ser um refugiado, um exilado?
O século XIX foi o século do parlamento, foi o século dos debates dos projetos coletivos, utópicos ou não; ao contrário do século XX, que foi o século do poder executivo, o século da violência, das guerras (Primeira e Segunda Grandes Guerras), dos golpes militares, das ditaduras.
Há opiniões exaltadas que afirmam que toda a produção intelectual do século XX foi elaborada por exilados, perseguidos, refugiados e pelos “fora do lugar”. É neste contexto político conturbado que emerge a figura gigante de Salim Miguel. Salim é da linhagem dos fora do lugar, como Joseph Conrad, que em seu livro Amy Foster denunciou as agruras do exílio, como Kalil Gibran, como o alemão Adorno e como o palestino Edward Said. É nesta galeria de intelectuais, que vejo Salim.
Escolho esses dois poemas para homenagear Salim Miguel. Tanto no primeiro poema como no segundo, a figura do pai é central, como foi o pai de Salim Miguel em sua vida. O primeiro, do maior poeta libanês de todos os tempos, Said Akl. Akl nunca saiu do seu Líbano, era uma espécie de síndico intelectual do país. Não falava, rugia. Era um verdadeiro leão de Zahle. Por sua vez, Salim Miguel saiu do seu Líbano com apenas três anos de idade, mas o Líbano nunca saiu dele, um só dia.
O segundo poema é do poeta sírio Nizar Qabbani, um dos poetas mais declamados, cantados e recitados do mundo árabe. Um poema que denuncia todas as ditaduras, sejam elas de esquerda ou de direita, para que não esqueçamos que Salim Miguel foi uma das vítimas da ditadura de 64. Chama-se, “Uma aula de desenho”.
Viva a resistência! Viva Salim Miguel! Viva o Líbano! Viva o Brasil!
2 Comments
Muitíssimo interessante o suplemento, parabéns Samir!
Excelentes os poemas em memória da grandeza literária que foram escolhidos.