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Nosso Líbano, para sempre o nosso Lar

Triste é observar, sob o olhar de um líbano-brasileiro, descendente de libaneses, ou ainda, sob o enfoque de um cidadão libanês que por algum motivo teve de abandonar sua terra para viver alhures; e que por mais próspero que tenha sido sua trajetória, ainda se defronta com a inextricável “causa libanesa”, que tanto o leva a lamentar as fúteis tentativas de resolvê-la agora, à espera de um futuro mais promissor.

Para onde você se dirigiu, Líbano imortal? Coração da Fenícia, sede de entrepostos comerciais do litoral mediterrâneo, citado mais de setenta vezes na Bíblia, milenar como o cedro que o simboliza, terra de literatos, como Gibran Khalil Gibran e Mikhail Naïmy, e de um povo que se reinventa, de acordo com cada cenário que se sobrepõe, caracterizado por muita resiliência e orgulho…

Por que deixou deceparem seu tronco, antes altivo e estável, Líbano, pequeno canto paradisíaco, terra de acolhimento de diversos povos, durante séculos, berço de um povo trabalhador, solidário e de fácil integração?

Por que se deixou levar por interesses mesquinhos e corruptos, ao invés de se fortalecer e usar da sua sabedoria milenar frente a tamanha cobiça estrangeira?

Arruinado pela corrupção, refém de exércitos estrangeiros, milícias armadas, incapaz de instituir um aparelho de estado laico, pluriconfessional ou plurocomunitário, democrático – como pregava o estadista Raymond Eddé, e o ex-ministro das Finanças, Georges Corm – e eficiente, que prevaleça sobre todo o seu território, através de instituições sólidas, poder judiciário independente, garantindo o bem-estar de todos os seus cidadãos, livre de opressores e tiranos.

Em 1948, estimava-se que 30% do ouro mundial transitava por Beirute em direção às monarquias e aos xeques do Golfo. O setor bancário libanês, notório desde o final do século XIX, aumentou de proporção graças ao aporte das fortunas palestinas que se dirigiram para o Líbano, após a Nakba, e à separação econômica com a Síria onde o dirigismo econômico já começava a ser planificado, levando à fuga de capitais, principalmente da grande burguesia síria, sobretudo cristã, e, de famílias sírio-libanesas do Egito   em direção a Beirute.

Beirute se beneficiou da lei do segredo bancário, almejada desde 1953, mas adotada em 1956. Entre 1956 e 1966, atraiu dois terços dos excedentes de petróleo do Golfo.

Mais do que apenas o escoamento de bens, pessoas e mesmo, petróleo, o Líbano se ligava às economias da Península Arábica por fluxos imateriais, substanciais, que tornaram Beirute o centro financeiro do Mundo Árabe até o dia seguinte do “primeiro choque do petróleo”.

Mais recentemente, disse o ministro da Cultura, Ghassan Salamé, os libaneses tinham apenas uma indústria real: a bancária. Mas ela caiu num abismo profundo, arrastada pelo descuido dos seus patrões e pelo seu casamento incestuoso com um tesouro público aventureiramente caro.

Os libaneses reclamam à meia- voz. Esperam, contra toda a lógica, recuperar os sentidos, agarrando-se às transferências da diáspora, como um sedativo. Isto cria uma espécie de estratagema em que as ligações privadas deveriam compensar o desastre público.

O impulso empresarial de antigamente não está completamente extinto, mas como poderá florescer se a autoridade pública, em vez de o promover, continua a infringir-lhe a sua incompetência e corrupção?

fonte: Traboulsi: Identidades e solidariedades cruzadas nos conflitos do Líbano contemporâneo (tese de doutorado em História, Universidade de Paris – VIII)
fotos: mario m luckger/ pinterest/ AP/
é advogado e empresário, Diretor da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, Curador da Mostra Mundo Árabe de Cinema, Diretor do Conselho Ortodoxo da Cidade de São Paulo.

5 Comments

  1. Artigo inteligente e uma análise perfeita da situação que se encontra o Líbano. A família Jafet não cansa de prestigiar , contribuir e iluminar a comunidade árabe do Brasil.

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    • Obrigado por acompanhar minhas publicações, nobre amigo, Samir.

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  2. Artigo inteligente e uma análise perfeita da situação que se encontra o Líbano. A família Jafet não cansa de prestigiar , contribuir e iluminar a comunidade árabe do Brasil.

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  3. Parabéns pelo artigo, contudente e singelo ao mesmo tempo.

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  4. Estimado Arthur Jafet,
    agradecemos imensamente a sua contribuição para o blog da Revista Libanus com este artigo cujo conteúdo é não somente reflexivo, mas urgente e necessário.
    Como bem salientou Samir Barghouti, a família Jafet nos deixa um importante legado !
    Abraços fraternais, Cristina Ayoub Riche

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