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Um sambinha em Beirute: Entrevista com o músico libanês, Adel Minkara

Depois de 3 anos morando no Brasil, voltei a morar no Líbano com o Adel, meu marido. Nesse retorno, descobrimos muitos lugares novos com espaço para música ao vivo de diferentes estilos. Quando se anuncia que vai ter show de música brasileira, percebemos olhares curiosos e interessados, além de dar um quentinho no coração de nós, brasileiros. E esse brilho nos olhos passa pelos músicos também, como o Adel Minkara, que é libanês e apaixonado por Bossa Nova, MPB e Samba.

Ele se naturalizou brasileiro recentemente e aprendeu português através da música brasileira. Ainda adolescente, começou a ouvir Tom Jobim e ler as letras de suas composições, assim como as de outros compositores brasileiros. Pesquisava o significado daquelas palavras e, ao mesmo tempo, se aprofundava musicalmente nesse universo tão rico. 

Com sua banda no Líbano, faz diversos shows apresentando a música brasileira para o público libanês e é sobre esse assunto que vamos conversar e compartilhar algumas curiosidades pelo olhar de um músico.

Você morava no Líbano quando começou a ouvir música brasileira. Você se lembra qual foi a primeira música que ouviu?

Encontrei uma fita cassete na minha casa com diversas músicas da Bossa Nova. Ouvi a fita toda e tinha uma faixa com violão chamada “Samba Triste” do Baden Powell. Como eu já tocava violão, essa música me chamou a atenção pela harmonia e melodia muito suaves, algo diferente do que eu já tinha ouvido. Uma harmonia rica com uma melodia simples. Procurei então livros sobre como tocar músicas brasileiras no violão, e foi bem difícil achar no Líbano nos anos 90. Encontrei apenas uma opção em Beirute, mas era um livro escrito por um americano e percebi que tinha algo faltando. Fiquei ouvindo a fita cassete diversas vezes para entender aquelas notas.

Quando eu estudei música erudita e jazz, as aulas me ajudaram a entender mais a linguagem da Bossa Nova. Mas eu não gosto da ideia de comparar a Bossa Nova com o Jazz, não é um “brazilian jazz”.

Estava fascinado, querendo aprender cada vez mais para tocar diversas músicas no violão. Baden Powell falou uma vez que a música mais próxima da música brasileira é a música árabe. Acho que é por isso que eu gostei tanto da música brasileira.

Você tem uma banda chamada “Xangô”, que toca principalmente Bossa Nova, Samba e Forró no Líbano. Como o público libanês recebe a música brasileira?

O público adora o ritmo. Nós também fazemos muita improvisação e é um dos momentos onde todos se soltam mais para dançar. A brasileira Naima Yazbeck, vocalista da banda, também é bailarina e sempre ensina passos de samba e forró durante os shows. Muitas pessoas não conhecem a música brasileira, mas sem saber, o público libanês já está familiarizado com a Bossa Nova pelas músicas do Ziad Rahbani, que compôs muitas músicas inspiradas no jeito que Jobim escrevia. 

Falando em Ziad Rahbani, você também já tocou diversas vezes com ele. Pode falar mais como a Bossa Nova inspirou suas composições?

Ele gostava como o Jobim tratava as melodias simples com harmonias bem ricas. Mesmo tendo um estúdio de música com equipamentos modernos, o Ziad queria reproduzir o mesmo timbre de piano do Jobim, mesmo sendo um timbre mais opaco por causa da tecnologia dos anos 50 no Brasil. Por exemplo, a música “Shu Bkhaf”, cantada pela sua mãe Fairuz, é baseada na música “Manhã de Carnaval”, de Luiz Bonfá. O Ziad escreveu outra letra em árabe e fez um arranjo parecido com arranjos do Jobim.

Quais são os maiores desafios de tocar música brasileira no Líbano?

Acho que o maior desafio é não “poder” escolher as músicas pelas letras, o foco é em músicas com melodias atraentes. Tem músicas que são um sucesso no Brasil mas que aqui não funcionam porque as pessoas não entendem a letra e não bate a mesma emoção. Não são todas as músicas do Jobim que tocamos. Por exemplo, eu adoro “Eu Sei Que Vou Te Amar” mas como a letra é o elemento principal dessa música, então não faz tanto sucesso por aqui. Mas quando tocamos “Chega de Saudade” ou “Garota de Ipanema” o público curte bastante. 

Que músico brasileiro você gostaria que viesse se apresentar aqui no Líbano? 

Quando morei no Brasil, tive a oportunidade de tocar com músicos brasileiros e tivemos uma troca muito boa. Fiz algumas aulas e assisti a muitos shows no Rio de Janeiro e em São Paulo de músicos que admiro muito. Sou super fã da cantora Rosa Passos. Adoraria que alguns instrumentistas pudessem vir, como o Lula Galvão, Nelson Faria, Yamandu Costa, Hamilton de Holanda, Pedro Martins, Pedro Franco, Bebê Kramer, Cainã Cavalcante, Badia Assad e tantos outros… uma lista enorme! E tem também outros músicos que, além de admirar muito, são de origem libanesa como o Egberto Gismonti e João Bosco. Seria um sonho!

fotos: Natalie Nassif e Adel Minkara
é brasileira, de origem libanesa e apaixonada pela cultura de seus dois países. É formada em Comunicação Social, Artes Cênicas e Pedagogia. Trabalha com educação no Brasil e no Líbano.

6 Comments

  1. Que belo artigo sobre Adel Minkara com quem eu tive a oportunidade de ser convidada por Natalie e Adel para assistir varios shows musicais no Rio de Janeiro., Assim como eu tive a plena satisfação e o prazer em assistir Adel Minkara tocando em vários lugares dessa cidade maravilhosa …os aplausos foram merecidos pelo seu talento e seu amor a música👏

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    • ❤❤❤

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  2. Quando eu era adolescente em uma viagem ao Líbano em 1974 antes do início da guerra civil, existia no Líbano um programa de música brasileira, era aos sábados e só tocavam músicas brasileiras durante 1 hora. Sucesso para vocês na divulgação da cultura brasileira no Líbano. Pena que não temos aqui a mesma divulgação com a cultura libanesa!!!

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    • Obrigada por compartilhar essa lembrança, Ricardo! A Radio Liban tinha até pouco tempo um programa de 1h só com músicas brasileiras, não sei se continua 😉

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  3. Adorei saber que um músico de origem libanesa divulga a música brasileira em seu país! Pena que o inverso não seja verdadeiro, gostaria que a música do Líbano fosse conhecida por aqui…

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    • Que bom que gostou, Virginia! Em São Paulo ainda é possível encontrar músicos libaneses tocando em restaurantes e clubes árabes mas nos outros estados é bem mais raro mesmo. Tomara que mais portas sejam abertas para a música árabe!

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