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A culinária libanesa e as nossas memórias afetivas

Minha paixão pela culinária libanesa começou dentro de casa, naturalmente, eu já cozinhava com minha mãe aos cinco anos. De certa forma, já tinha um entendimento da importância daquela comida.

O Walima Gastronomia surgiu da minha paixão e da minha mãe Doha, pela culinária e cultura das nossas raízes libanesas e árabes, e da necessidade em unir a tradição ao novo.

Minha mãe começou a cozinhar aqui, tentando resgatar os sabores que ela sentia falta da sua casa no Líbano. Ela não era cozinheira no Líbano, mesmo porque, chegou aqui no Brasil muito nova, já casada com meu pai. Aqui ela tinha ajuda das tias dela, da sogra, e das cunhadas, mas nunca a comida tinha o sabor da sua casa e das suas memórias afetivas.

As memórias de minha infância são gostosas, doces, salgadas, aromáticas, delicadas. Lembro da minha casa, da cozinha grande, dos pratos e talheres e, também me lembro da casa da minha avó, que vivia na casa ao lado com meu avô e alguns tios meus. Havia festa, vida, havia comida.

Lembro também das visitas, dos parentes ou não, recém-chegados do Líbano, eram sempre muito bem recebidos, a mamãe caprichava sempre no cardápio e no café, eu ajudava, gostava de estar presente naqueles momentos.

Já mexia a panela, enrolava charutinhos, e nas festividades, ajudava a mamãe a fazer o “kaak bi halib”, pintar os ovos para a pascoa e a quebrar as nozes para fazer o recheio do “maamul” para o natal.

Lembro da mamãe cozinhando. Gostava da provar a “massinha” do quibe que ela apertava com a mão.

Lembro de ela falando de como era a comida na casa dela antes dela chegar aqui, lembro dela resgatando os sabores da vida dela, os sabores que me alimentam. Algum tempo depois, a outra avó chegou do Líbano, junto com minha tia e aí, vieram novas comidas, novos modos, novos sabores, novas experiências, novos aprendizados.

O Walima Gastronomia é um buffet para serviço de encomendas, festas e eventos. Não temos espaço físico. Somos um duo de mãe e filha, cozinhando juntas, há 30 anos. Tudo começou com a mamãe e depois eu me juntei a ela. Hoje em dia o Walima representa uma boa parte das nossas vidas, bem como, o nosso estilo de vida. É o nosso ganha pão, nossa alegria e nosso combustível para seguir em frente. Vem contribuindo bastante para a divulgação da gastronomia libanesa, saindo um pouco do óbvio, do mesmo, tentando mostrar tanta riqueza com inúmeras possibilidades de sabores e combinações. Nem sempre isso é aceito pelo público/cliente.

Já faz um tempo que o quê nós entendemos desse mercado é que o brasileiro não gosta muito de novidades, prefere o mais seguro, o mais tradicional, sendo esse, hoje em dia, o nosso maior desafio em divulgar e propagar a culinária libanesa que, como tudo, também evoluiu.

Por outro lado, é muito satisfatório ter um reconhecimento em fazer um trabalho e comida autênticos. Hoje em dia, já possuímos uma culinária autoral, sem deixar a tradição de lado. E muito importante manter as tradições, em meio a uma avalanche de profissionais e perfis em redes sociais, que ajudam a popularizar a culinária árabe, onde hoje em dia não há regras, sendo tudo possível, o que acaba descaracterizando a nossa culinária de herança. Sem a tradição, perdemos nossa identidade.

Claro que fazemos algumas adaptações ao paladar brasileiro, principalmente, na falta, escassez e sazonalidade de algum ingrediente, bem como na substituição de um ingrediente original de algum prato ou receita, mas nunca descaracterizar a sua essência.

Todos os pratos tradicionais têm algum significado tanto para mim como para a minha mãe. Para ela, ficam as lembranças que foram passadas para mim, por exemplo da minha bisavó. Eu não conheci a minha bisavó, mas eu a conheço sim, apenas de ouvir as histórias contadas pela minha mãe sobre ela, de como ela cozinhava, como ela usava as especiarias, onde ela ia buscar alguma iguaria. Como ela fazia tal prato. E de como era o comportamento dela…

Em certos momentos me pego imaginando como seria se eu a tivesse conhecido? O que sei é que sou muito parecida com ela! Risos! Partilhamos de várias manias iguais, gostos, costumes…

Mas posso citar, os deliciosos charutinhos de folha de uva, elaborados de diferentes formas, com carne e arroz, vegetarianos para a quaresma, cozidos com rabada e abobrinhas, com cordeiro ou com frango.

E há um prato muito afetivo, que se chama “Laban emo” ou “chacrie” em outras regiões, que consiste em um ensopado de carne cozida na coalhada, que pode ser com carne de cordeiro ou de boi. Aqui no Brasil ficou mais comum com carne de boi.

Mas a minha madrinha fazia este ensopado de coalhada com carne e fatias de palmito jussara, pois o sabor e a textura do palmito, remetiam a ela uma iguaria que só e achada na região do Levante chamada “Akkub”, um tipo de planta com espinhos semelhante a alcachofra. E em casa fazemos este ensopado da mesma forma, carne, coalhada e fatias de palmito, servido com arroz “bi Chaairie” (arroz com macarrãozinho cabelo de anjo frito).

As redes sociais nos ajudaram bastante a divulgar o nosso trabalho, sendo que há mais de 10 anos, nossa propaganda era quase toda “boca a boca”.

Então tivemos e ainda temos uma grande visibilidade tanto aqui no Brasil como fora do país. Para clientes novos e habituais aqui em São Paulo, a comunicação é bem mais ágil e a gente consegue atender e responder a todos mais prontamente e com mais agilidade.

Lógico que imagens bonitas contam muito, pois comemos primeiro com os olhos! Então caprichamos nas produções fotográficas, estética, da nossa comunicação visual em geral nas redes sociais. (somos nós que produzimos e fotografamos todas as fotos das páginas do Walima nas redes sociais) Isso é fundamental pois passa para o cliente, seguidor/admirador, cliente em potencial, certa seriedade, notoriedade e domínio do conteúdo divulgado.

Mas esse está sendo o caminho natural da era da “comida digital”, muito tendenciosa, em todos as gastronomias, não apenas para a libanesa. Se você não está nas redes sociais, então seria como você não existisse! Como dito acima, somos bombardeados a todo momento, com conteúdos culinários excessivos, muitas vezes banais e errôneos. Então sempre temos que ter um bom senso ao divulgar alguma receita, foto, prato e conteúdo. Estamos aqui para mostrar que, nossa comida e culinária é real, é linda, tem história e ajudou a construir a gastronomia e cultura deste país!

Por enquanto estamos abertas a convites e colaborações, não temos nenhum projeto em especial a vista. Seguimos com nossos serviços de eventos, festas, catering e encomendas. Mas, a longo prazo, há o projeto do nosso tão sonhado livro!

Instagram: @walima_gastronomia / facebook: walima.gastronomia
fotos: © Dunia Naufal
Chefs e proprietárias do buffet Walima Gastronomia em São Paulo

7 Comments

  1. Excelente texto, parabéns por compartilhar. Obrigado

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  2. Ótimo texto! Comida boa é aquela nos faz ter ótimas lembranças! Espero um dia poder experimentar a belíssima culinária libanesa!

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  3. Ótimo texto, belíssimas fotos! Muito bacana toda a memória afetiva e tradição familiar por trás dos pratos. Vida longa à Walima Gastronomia!

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  4. Parabéns, fiquei com água na boca vendo essas maravilhas libanesas que vocês preparam com tanto esmero.

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  5. Lindas fotos, um texto gostoso de ler, que comida maravilhosa, um prato mais bonito que o outro, dá água na boca!!!
    Desejo muito sucesso em todos os projetos, hoje e sempre!!!

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  6. Dunia e Doha,
    Belíssimo texto mostrando a tradição da culinária libanesa na família!
    Os pratos já atraem pela beleza! Quantas delícias! Sucesso!

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  7. Mabrook a vocês que Alhamdulillah mantém essa linda tradição Libanesa, caracterizando a essência de seus antepassados. Insha Allah tenham muita saude e alegria. Shukran

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