A 1ª vez que o vi foi numa sala de recepção. Ele estava usando os seus indefectíveis suspensórios. Pareciam que estavam segurando o seu mundo elevado por cima de seus ombros. Olhou-me, sorriu, e seus olhos fecharam-se feito japonês. Eu sabia que iria gostar dele. Tem pessoas que nos deixam impressões: ele estava deixando uma edição inteira, páginas em branco para a gente preencher, errando palavras, esquecendo os títulos.
Falaram que ele ficava surpreso com meus textos, invejava as imagens que a redação formava, fontes que saiam de meus sentimentos, procurando outros sentimentos… feito os dele. Eu senti um misto de felicidade e admiração. Afinal, como um escritor compulsivo como ele poderia apreciar imagens advindas apenas do passado combinadas com uma saudade? O ser humano sempre encontra pessoas que ele menos espera, e espera pessoas que ele nunca encontra. No meio do caminho entre nós tinha um Líbano.
No dia em que ele partiu, fez-se uma poesia em nossa pretensão. Nunca foi escrita. Não precisava. A sua vida era feita de versos empilhados num sobrado a espera de brisas para serem levadas até nosso esquecimento, esse esquecimento mais lembrado do que nunca. E seus olhos, olhando o Líbano, fecharam-se num sorriso.
fotos: arquivo pessoal- Dr Hallal / Samir Barghouti









