“Diz-se que existem três maneiras de se chegar ao topo de uma árvore: Subir nela, sentar em cima da semente ou ficar amigo de um grande pássaro.”
O cedro é, sem dúvida, o símbolo mais icônico do Líbano, sendo a alma e a essência da identidade nacional, imortalizado no centro da bandeira do país. Conhecido como o “Cedro do Senhor” e o “Guardião do Líbano”, essa árvore milenar carrega em si a solidez e a estabilidade, como sugere seu nome em siríaco, e também a durabilidade e a firmeza, segundo a tradução árabe. Alguns exemplares podem atingir incríveis três mil anos de idade, mantendo seus galhos verdes durante todo o ano. Envolto em mitos, lendas e histórias encantadoras, o cedro é mais do que uma árvore: é um legado cultural e espiritual.
Contos e Lendas
Entre as muitas histórias que cercam o cedro do Líbano, uma das mais fascinantes conta que os deuses escolheram o “Cedro do Senhor” para vigiar o Monte Líbano e proteger a terra como seu “Guardião Eterno”.
No Épico de Gilgamesh, a Floresta de Cedros, associada aos Cedros do Líbano, é um reino sagrado guardado pelo semideus Humbaba e descrito como um símbolo de beleza e poder divino. Gilgamesh, rei de Uruk, e seu companheiro Enkidu enfrentam a perigosa jornada até a floresta, desafiando Humbaba com a ajuda do deus Shamash. Após derrotar o guardião, cortam os majestosos cedros, um ato que simboliza tanto conquista quanto ruptura com a harmonia divina, resultando na maldição e morte de Enkidu. A narrativa reflete sobre ambição, mortalidade e as consequências da intervenção humana na ordem sagrada, consolidando-se como uma obra atemporal da literatura mesopotâmica.
Outras narrativas conectam a madeira de cedro a figuras bíblicas e momentos históricos marcantes:
- Diz-se que o Profeta Noé utilizou seus galhos para construir as tábuas da Arca.
- São José teria moldado o berço do menino Jesus com madeira de cedro.
- A cadeira onde Cristo se sentou no templo de Jerusalém também seria feita desse material.
- Há ainda quem afirme que a cruz da crucificação de Jesus foi construída com a resistente madeira de cedro.
Alguns mitos vão ainda mais longe, sugerindo que Adão e Eva viveram no Líbano, passando os invernos na Caverna de Kadisha e os verões sob a sombra protetora das florestas de cedros.
Nas Civilizações Antigas
O cedro do Líbano é mencionado 75 vezes na Bíblia, sendo frequentemente associado a santuários e símbolos de fé. Seu papel transcendeu o espiritual, alcançando o cotidiano de muitas culturas:
- Sua resina era usada como incenso em celebrações religiosas, e seu óleo, como proteção contra mofo.
- Considerado sagrado, acreditava-se que o cedro expulsava espíritos malignos, trazia bênçãos, curava enfermidades e afastava epidemias.
- No Egito Antigo, os faraós empregavam o óleo de cedro no processo de embalsamamento.
- Os fenícios, mestres da navegação, utilizavam sua madeira para construir barcos robustos.
- O Rei Salomão ergueu seu templo com cedros trazidos do Líbano.
- Romanos fabricavam móveis e altares com a madeira do cedro, reconhecida por sua durabilidade.
Até mesmo as folhas de cedro tinham funções simbólicas: foram encontradas mergulhadas em óleo no túmulo do Rei Nimrod e na ponte de cedro preservada no templo grego de Diana, em Éfeso.
As Igrejas e o Cedro
A madeira de cedro também desempenhou um papel fundamental na construção de igrejas históricas ao redor do mundo:
- A Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém; a Igreja da Natividade, em Belém; e a Igreja de Tiro, no Líbano, onde São Paulo rezou, foram erguidas com cedro.
- Outros exemplos incluem a Igreja Real de Santa Maria, em Jerusalém, e a Igreja de São Paulo, em Roma.
- Relíquias de madeira de cedro foram encontradas intactas em templos como a Igreja de São Sérgio, em Resafa, e a Igreja de Santa Maria, em Toledo, Espanha.
Os bancos do Sagrado Coração, em Montmartre, o altar da Igreja do Salvador, em Viena, e as estátuas da Igreja de São Marcos, em Veneza, também utilizam essa madeira lendária.
“E, no topo de um cedro majestoso, um pássaro contempla a grandiosidade do Monte Líbano, guardando suas histórias e sua eternidade.”
© Revista Libanus
2 Comments
Adorei o relato. Parabéns. Muito bonito. CEDRO – árvore histórica. É possível obter estas revistas impressas?
Cara Maira. Obrigado pelas gentis palavras. Em 2025, teremos uma versão impressa da revista.