“O talento é um título de responsabilidade.” (Charles de Gaulle)
Os títulos e cargos que muitas famílias libanesas ainda ostentam são, na realidade, funções administrativas outorgadas pelo Império Otomano. Esses títulos não apenas refletem o prestígio dessas famílias, mas também evidenciam a complexa hierarquia e a influência que exerciam no contexto otomano, estabelecendo um vínculo direto com o poder imperial.
Para administrar seu vasto império, o Sultão designava Paxás (باشا), ou generais, para governar as cidades. Estes, por sua vez, nomeavam líderes locais para administrar as regiões rurais e vilarejos.
Esses líderes faziam parte de uma estrutura feudal e eram chamados de Muqataji (مقاطعجي), uma espécie de administrador de condado (مقاطعة). Suas responsabilidades no sultanato eram três principais: cobrar impostos, garantir a segurança e resolver disputas entre os camponeses. Embora tivessem permissão para investir nas terras, eles eram proibidos de adquiri-las. Em essência, eram uma espécie de vassalos de luxo.
A seguir, apresentamos alguns dos principais títulos concedidos às lideranças camponesas da região do Monte Líbano:
- Emir ou Sanjak Bey: O título de Emir (أمير) significa, na verdade, “aquele que manda” (يأمر), e não se refere a um príncipe de linhagem nobre, pois o Emir sempre se reportava ao Sultão. Algumas das famílias libanesas que ostentaram o título de “Emir” foram: Maan, Assaf, Harfoush, Chehab, Arslan e Abi Lamaa. Além delas, a família Ayoubi, descendente de Salah al-Din al-Ayyubi, também usava o título de Emir.
- Moukdam (مقدم): Literalmente, “aquele que está à frente”, o Moukdam era um título militar, equivalente a tenente. Ele liderava um batalhão de mil soldados, sendo conhecido também na língua turca como Bakbashi (بكباشي).
- Sheikh (شيخ): Este título era concedido a líderes feudais locais que possuíam grande riqueza e influência política em suas regiões.
Processo de Herança dos Títulos:
O processo de sucessão desses títulos estava vinculado a um “contrato de compromisso”, renovado anualmente, que as famílias mantinham com o Império. Para facilitar a administração das distâncias, o Sultão introduziu a ordem Malikana, permitindo que esses títulos fossem transmitidos de geração em geração dentro das famílias.
- Beik (بك), ou Bey (الباي): Esta denominação ou apelido era concedido pelo Sultão como recompensa a quem prestasse serviços ao Império. Beik significa “Senhor” na língua otomana.
- Sit (ست): Este título era usado para se referir a mulheres da alta sociedade, significando “Dama”. Muitas dessas mulheres exerciam considerável poder, sendo geralmente a mãe, esposa ou filha do Emir. Elas usavam um adereço chamado Tantour (طنطور), um cone alto de pano (geralmente de seda ou brocado de seda) preso ao topo da cabeça. O tamanho do Tantour indicava a importância e o poder de quem o usava.
- Khaweja (خواجه): No século XIX, este termo era dado a comerciantes e mercadores europeus que atuavam no Egito durante o período otomano. Com o tempo, a denominação passou a ser usada como um título de respeito para aqueles que se distinguiam pela moral e conduta exemplar.
- Afandi (افندي): De origem bizantina, essa denominação significava “muito respeitável”. Durante o Império Otomano, foi adotada para se referir a indivíduos cultos ou acadêmicos, que frequentemente usavam o chapéu fez, o famoso tarbouch.
Enquanto subia pelas montanhas do Líbano, relembrando o passado, ela pensava na célebre frase de Benjamin Franklin: “Ser humilde com os superiores é obrigação, com os colegas é cortesia, com os inferiores é nobreza.”
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