Close

Login

Close

Register

Close

Lost Password

Gamão: O percurso do jogo de diversão no Líbano

“A maturidade do homem consiste em haver reencontrado a seriedade que tinha no jogo quando era criança.” (Friedrich Nietzsche)

No Líbano, o gamão vai além de um simples passatempo; ele faz parte da identidade cultural do país. Considerado um dos jogos de tabuleiro mais antigos, o gamão, conhecido como Tawlet Zaher (طاولة الزهر), é um jogo de “corrida” ou “percurso”. Dois jogadores se enfrentam em um tabuleiro de madeira, muitas vezes decorado com pedras preciosas como lápis-lazúli, e o objetivo é retirar todas as peças antes do oponente.

Origens do Jogo: O gamão tem suas origens remotas, datando de cerca de 3000 a.C., quando arqueólogos descobriram painéis do jogo na antiga cidade de Ur, na Mesopotâmia (atual Iraque). Os persas introduziram o jogo em sua região, e os romanos, posteriormente, adaptaram-no ao seu estilo. Originalmente, as peças eram feitas de marfim de elefante ou madeira, mas hoje em dia, são predominantemente feitas de plástico.

Em Beirute, no bairro de Achrafieh, uma rua repleta de edifícios antigos, que preservam as cores pêssego e rosa desde os anos 50, o gamão se tornou um ritual diário para muitos, especialmente para os mais velhos. Eles se reúnem para conversar, tomar café, fumar narguilé e, claro, jogar gamão. Em algumas ocasiões, torneios locais envolvem toda a comunidade, criando uma atmosfera de união e diversão. Com o passar do tempo, o interesse pelo jogo se expandiu para as gerações mais jovens, que agora o jogam em aplicativos e plataformas online, adaptando o gamão às novas tecnologias.

Gamão Tradicional para as Novas Gerações: Em Bourj Hammoud, bairro de Beirute, uma pequena loja de gamão mantém viva a tradição, criando tabuleiros para as novas gerações. A loja combina habilidades artesanais com tecnologia moderna, utilizando máquinas a laser para criar formas geométricas que seriam impossíveis de realizar manualmente, como formas circulares e outras complexas. Os tabuleiros são verdadeiras obras de arte, com desenhos geométricos minuciosamente cortados, combinados com pinturas e cores cuidadosamente selecionadas.

No Líbano e no Oriente Médio, existem algumas variações do jogo. A forma mais popular e fácil de aprender é o Sheish Beish (شاش باش), mas também existem versões como o Wahdeh Tntetine (واحدة تنتين), em que um jogador não pode colocar suas peças nos mesmos quadrados do oponente, o que prolonga a duração do jogo. Outra versão, o Mahbooseh (محبوسة), envolve o aprisionamento de uma peça, onde o adversário a encurrala colocando a sua peça em cima da outra.

A influência turca no jogo é significativa, especialmente no uso dos números persas: yek (um), (dois), se (três), cehar (quatro), penc (cinco) e ses (seis).

O saudoso Dr. Roberto Curi Hallal costumava contar a história de Dona Otilia e do Sr. Emilio Curi, seus pais, que moravam no Rio Grande do Sul. Após o almoço, eles descarregavam suas frustrações em intensas partidas de gamão, brigando de forma competitiva, mas sempre cientes do começo, do meio e do final de cada disputa.

Até hoje, os ecos suaves dos gritos de Sheish Beish ainda dançam pelos pampas, enquanto, no céu, os olhos do Dr. Roberto brilham com a inocência e a alegria de uma criança a brincar.

© Revista Libanus

fotos: Goodheart / Wafa / Pinterest / A. Katzberg/ Elie Thomé
Equipe da Revista e do Blog

    Deixe seu Comentário

    O seu endereço de e-mail não será publicado.

    Obrigado por enviar seu comentário!

    Compartilhe

    Dê o seu like!

    35

    Categorias

    Próximos eventos