Entre os inúmeros artistas brasileiros de origem libanesa, José Assad, mais conhecido como Berliet Junior, se destaca como uma figura multifacetada, cuja influência marcou profundamente a cultura brasileira. Sua trajetória é um exemplo de criatividade, resiliência e paixão pelas artes, deixando um legado que atravessa gerações.
Primeiros anos e formação no exterior
Nascido em 7 de fevereiro de 1906, em um sobrado na Praça da República, no Rio de Janeiro, José Assad era filho de imigrantes libaneses que traziam consigo uma rica bagagem cultural. Em 1922, aos 16 anos, foi enviado com seus irmãos ao Líbano, onde a família se estabeleceu em Aamicht. Essa mudança, embora difícil, foi marcada por experiências que moldaram seu caráter e sua visão de mundo.
Durante sua passagem pela Legião Estrangeira, em Alepo, na Síria, José viveu momentos intensos, dirigindo ambulâncias da marca Berliet — que lhe rendeu o apelido que levaria para toda a vida. Também foi responsável pelo manejo do setor de pombos-correios, tarefa crucial no contexto militar da época. Por sua dedicação, foi condecorado pelo governo francês com a medalha de “Bonne Conduite”.
Retorno ao Brasil e início da carreira artística
Quando retornou ao Brasil, em 1928, José Assad iniciou sua vida profissional como mascate, vendendo gravatas na porta do Quartel do Exército em Realengo. No entanto, sua vocação para as artes logo o levou a atuar como jornalista e a ingressar no mundo da comunicação, contribuindo em emissoras de rádio como Roquete Pinto, Mayrink Veiga e Tupi.
Visionário, Berliet fundou o Liceu de Artes Cênicas Berliet Junior, onde introduziu o primeiro curso de radioteatro do país. Convicto de que a televisão, nascente à época, revolucionaria a comunicação, ele se dedicou a formar profissionais que soubessem atuar e se expressar com excelência.
Contribuições para o teatro, cinema e rádio
Polímata e inovador, Berliet explorou diversas linguagens artísticas. Criou peças teatrais como Mercado de Bagdad, O Cego do Cairo e O Homem que Volta, nas quais uniu elementos da cultura oriental com narrativas universais. Também atuou como roteirista e diretor no cinema, com obras marcantes como Carnaval Atlântida (1952), Os Três Vagabundos (1952) e Depois Eu Conto (1956).
Berliet também se destacou como mentor de talentos, tendo iniciado a carreira de inúmeros artistas, incluindo José Bonifácio (Boni), um dos maiores nomes da televisão brasileira. Trabalhou ao lado de ícones como Oscarito, Grande Otelo, Ilka Soares e José Lewgoy, contribuindo para elevar o padrão das produções nacionais.
Legado e relevância cultural
Mesmo após seu falecimento em 8 de março de 1973, sua influência permanece visível nos diversos campos em que atuou. Sua obra, composta por centenas de textos, roteiros e peças, é um testemunho de sua dedicação e versatilidade.
Em 2020, o relançamento de seu livro Mercado de Bagdad marcou os 114 anos de seu nascimento, reafirmando a relevância de sua contribuição para a literatura e o teatro brasileiro. Esse evento foi mais do que uma celebração: foi um reconhecimento de seu papel como um dos grandes narradores de histórias do país.
Uma vida que transcende o tempo
José Assad, o Berliet Junior, foi muito mais do que um artista; foi um visionário que entendeu o poder transformador da cultura. Seu legado, imortalizado em obras e memórias, ecoa em cada canto da cultura nacional. De sua história pessoal ao impacto nas artes brasileiras, Berliet Junior continua inspirando novas gerações a sonhar, criar e transformar.
(texto em homenagem ao Sr. José Roberto Assad, filho do saudoso escritor, José Assad, Berliet Junior)
© Revista Libanus
16 Comments
Sem palavras ,emocionado ,resgataram o trabalho diversificado e encantaddor de Berliet junior.
quando ele contava as historias dos cinco anos vividos na legião estrangeira ,falava em árabe ,francês, e depois em português para nós entendermos.
Agradeço imensamente a consideração de publicarem a historia de um ícone filho de libanês, muito obrigado.
É com grande emoção que recebemos sua mensagem e, por meio dela, temos a honra de expressar nosso profundo respeito e admiração pelo legado de seu pai, o saudoso Berliet Jr. A homenagem prestada a ele é mais do que merecida, refletindo a magnitude de sua contribuição à arte brasileira. Seu pai foi, sem dúvida, um ícone, cuja obra transcendeu gerações e continua a influenciar profundamente o cenário cultural do nosso país.
Agradecemos por nos permitir reconhecer e celebrar a memória de um artista tão singular e significativo. Seu legado permanecerá sempre presente e será eternamente lembrado com carinho e reverência. REDAÇÃO
Tivemos o prazer de conhecer sua filha Rosa José Assad como colega de trabalho em 1974! Posteriormente conhecer toda a família Assad principalmente o coronel Roberto Assad!Temos muito agradecer à Deus por nos ter colocado no caminho desta família em que fomos e somos amadas e amamos!Gratidão Enedina(in memória)Ana Machado e Adelaide Machado.
Obrigado pelo gentil comentário. Agradecemos a sua leitura.
Brilhante história.
Parabéns aos seus descendentes.
Obrigado Neidi pelo seu comentário e por nos acompanhar.
Brilhante história.
Parabéns aos seus descendentes.
Obrigado.
Emocionada ao voltar ao passado através de um tio que foi e é referência para mim e para muitos.Saudades dele e de minha tia Janem Ganem Assad.
Agradecemos o emocionante comentário.
Obrigado, Assad, pelo envio do link para acesso desse especial trabalho da revista Libanus, resgatando, com justiça, o nome do seu pai, Berliet Júnior, um ícone, das artes e da literatura no Brasil. A migração de libaneses para o Brasil é superior à população que lá ficou. Somos o país que reúne maior número de libaneses fora do Líbano. Muito devemos a pessoas do calibre de seu pai pela contribuição ao desenvolvimento brasileiro. O Hospital Sírio Libanês, maior e melhor hospital do Brasil é uma prova disso. Neste momento de guerras no Oriente Médio, em que parece que o homem ainda não aprendeu que a paz é possível, agradecemos aos imigrantes libaneses, sírios, japoneses, alemães, poloneses, por todo o bem que fizeram em prol do Brasil. Formulamos nossos melhores votos de que o ano de 2025, seja um ano de paz e alegrias,
Com um abraço Alberto Bittencourt
Prezado Alberto,
Agradecemos imensamente por suas palavras tão gentis e por reconhecer o legado do saudoso Berliet Júnior, e sua contribuição às artes e à literatura no Brasil. Concordamos plenamente com a importância da comunidade libanesa e de outros imigrantes na construção de um Brasil melhor. Que 2025 seja realmente um ano de paz, aprendizado e união.
Um grande abraço.
Redação
Me identifiquei com a narrativa.
Assistí todos estes filmes.
Sinto saudades desta época.
Atlantida, Cinedistri, Herbert Ritchers
circulei muito nestas distribuidoras de filmes quando era exibidor cinematográfico.
Caro Roberto, Que incrível sua experiência como exibidor cinematográfico e seu envolvimento com distribuidoras tão icônicas como Atlântida, Cinedistri e Herbert Richers! Essa época marcou profundamente o cinema brasileiro, tanto pela magia dos filmes quanto pelo impacto cultural. Reviver essas lembranças, assistindo aos filmes, deve ser um mergulho nostálgico e emocionante. Se quiser, mande-nos email para revistalibanus@gmail.com e compartilhe mais sobre essa sua trajetória – seria fascinante saber como era circular nesse universo cinematográfico tão rico!
Que narrativa rica, repleta de fatos impares, que tanto orgulho traz aos encantados pelas artes , por suas raízes principalmente dessa época de ouro onde o recursos eram poucos sendo o talento genuíno dos artistas , a principal ferramenta . Vi muitos desses filmes e tenho o prazer de ter como tio do coração , tio Assad que ao contar as histórias de sua familia , brilha os olhos e sorri como se estivesse conversando com o passado sempre tão presente.
Que narrativa rica, repleta de fatos impares, que tanto orgulho traz aos encantados pelas artes , por suas raízes principalmente dessa época de ouro onde o recursos eram poucos sendo o talento genuíno dos artistas , a principal ferramenta . Vi muitos desses filmes e tenho o prazer de ter como tio do coração , tio Assad que ao contar as histórias de sua familia , brilha os olhos e sorri como se estivesse conversando com o passado sempre tão presente.