Poucos sabem, mas a comunidade científica brasileira conhece e homenageia Neusa Margem Amato, uma das primeiras mulheres a fazer importantes contribuições para a ciência no Brasil. Ela foi pioneira na introdução de métodos experimentais inovadores para as Emulsões Nucleares, permitindo o conhecimento e a descoberta de novas partículas, além de ajudar na comprovação de teorias fundamentais da física da época.
Filha dos libaneses Salim Margem e Sumaria Faquer Margem, que imigraram para o Brasil, Neusa nasceu em 1926 na cidade de Campos dos Goytacazes, no estado do Rio de Janeiro. Proveniente de uma família com princípios rígidos, completou o curso secundário em 1942, aos 16 anos, e se interessou por ciências, desejando ingressar em uma faculdade dessa área.
Apesar das expectativas familiares, Neusa foi incentivada por seu professor de Física, Plinio Sussekind da Rocha, a seguir sua vocação. Ela passou no vestibular, graduando-se em Física em 1945 e, dois anos depois, obtendo seu diploma de licenciatura na mesma área.
Após esse período, Neusa começou a trabalhar como pesquisadora e foi convidada pelo professor César Lattes a integrar o recém-criado Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), atualmente vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. Foi no CBPF que ela construiu sua carreira acadêmica ao longo de 46 anos, superando desafios e crises. Sua competência, dedicação e carisma marcaram a história da instituição, sempre desenvolvendo projetos de pesquisa de alta qualidade.
Em 1950, o CBPF publicou o primeiro trabalho de Neusa, intitulado Sobre a desintegração do méson pesado positivo, que contou com a colaboração de Elisa Frota-Pessoa. Em 1º de março de 1951, Neusa e Elisa fundaram a Divisão de Emulsões Nucleares, que se tornou um símbolo do CBPF nas primeiras décadas da instituição.
Em 1958, Neusa foi convidada pelo Instituto de Física da Universidade de Turim para dar continuidade às suas pesquisas com emulsões nucleares, sendo contemplada com uma bolsa de estudos do CNPq. Durante esse período, ela publicou um trabalho na revista científica Nuovo Cimento sobre as interações dos mésons estranhos K.
Adicionalmente, Neusa desempenhou papel fundamental na colaboração Brasil-Japão, estudando as interações dos raios cósmicos com emulsões nucleares expostas no Monte Chacaltaya, na Bolívia. Ela também foi responsável pelo Laboratório de Emulsões Nucleares do CBPF e coordenou a colaboração Brasil-Japão no Rio de Janeiro por várias décadas.
Em reconhecimento a suas contribuições e à sua trajetória exemplar, Neusa Margem Amato foi nomeada patrona da cadeira 23 da Academia Líbano-Brasileira de Letras, Artes e Ciências, uma honra que destaca sua relevância não apenas na ciência, mas também em suas raízes culturais e no vínculo entre o Brasil e o Líbano.
Neusa foi casada com o italiano Gaetano Amato, com quem teve dois filhos. Aposentou-se compulsoriamente em 1996, após mais de 100 trabalhos publicados. Ela faleceu em 2 de maio de 2015, aos 88 anos. Sua filha, Sandra Amato, seguiu seus passos na ciência e é atualmente professora de Física no Instituto de Física da UFRJ.
© Revista Libanus
fontes: Thalia Ferreira/ CNPQ
Fotos: pinterest/revista galileu


