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Maktub – uma história de imigrantes libaneses no Brasil

 Com muita satisfação recebi o Prêmio Distinção – 130 anos de imigração Libanesa no Brasil no Rio de Janeiro, troféu concedido pelo cônsul-geral do Líbano no Rio de Janeiro, Dr. Alejandro Bitar, em reconhecimento ao trabalho feito pela minha tia, Carmen Jabour, Irmã Zoé, nome religioso, em 1 junho de 2018. A cerimônia aconteceu no teatro Baden Powell e também foram agraciados os meus tios Abrahão e João Jabour, na categoria empresário. A referida comenda foi dada a várias pessoas de origem libanesa pelos serviços prestados à comunidade brasileira, no caso dela, pela dedicação aos pobres e aos idosos.

Há um movimento discriminatório para com os imigrantes no mundo inteiro, como se eles não ajudassem no desenvolvimento dos países os quais escolheram para viver. Não faz sentido o crescente ódio contra esses cidadãos que, por necessidade ou desejo, abandonaram as suas casas, os seus empregos, as suas famílias, para sobreviver em outro território.  Negar esse direito é cruel, pois a maioria deles contribui culturalmente, trazendo na bagagem intelectual as suas experiências com a culinária e com arte, entre outros conhecimentos. 

Aqui no Brasil, libaneses, sírios, espanhóis, italianos, alemães e outras pessoas de várias nacionalidades sempre foram muito bem recebidos, merecendo a cordialidade e o respeito de todos que aqui nasceram.  

Com muita honra, tenho ascendentes libaneses por parte de pai e mãe, que imigraram para o Brasil na década de 1890, e se conheceram aqui no Brasil, mostrando aos seus descendentes uma história de superação e trabalho digno.

Um pouco da história das famílias Jabour e Fiod.

FAMÍLIA JABOUR

Elias Gabriel, natural de Trípoli, engrossou o contingente de ‘turcos’ que chegaram ao Brasil em 1892. Casado com Said Gabriel, deixou a mulher e veio tentar a sorte no Brasil. Chegou ao Rio de Janeiro, onde foi acolhido pela madrinha de sua mulher, a sra. Nagib Ahli. Pediu um empréstimo, comprou mercadorias e saiu para vender pelo interior do estado.

Numa dessas idas e vindas ao Líbano, voltou para o Brasil com a mulher e os filhos Abrahão e Joana. À época, era costume um benfeitor receber as famílias de patrícios e encaminhá-las para outras cidades e a família Gabriel seguiu para Providência, distrito de Leopoldina, interior de Minas Gerais, onde estava instalada uma colônia de libaneses.  Montaram uma pequena loja que vendia de tudo, desde alimentos, roupas, móveis e até fazia serviços fotográficos. Em Providência, nasceram mais 5 filhos: João, Jorge, Mariana, Miguel e Carmen. Abrahão Gabriel, com 15 anos, tornou-se independente de seu pai e abriu uma venda perto de Providência. Logo depois fugiu com a prima-irmã, Joana Sara, foram para Petrópolis e casaram-se na Igreja Católica, apesar de serem cristãos ortodoxos. Muito determinado, levantou dinheiro com banqueiros no Rio, montou um negócio de beneficiamento de arroz e foi para São Paulo colocar a mercadoria na praça.

Mais tarde Abrahão trocou o arroz pelo café e mudou o sobrenome dele e de toda a família Gabriel, tornando-se Jabour. Abrahão Jabour prosperou, abriu um escritório no Rio e passou a viver seis meses em Providência e seis no Rio. Diversificou seus investimentos em imóveis, onde fundou o Bairro Jabour, em Senador Camará, no bairro de Bangu, e ações. Fundou a Jabour Exportadora, que chegou a ser a maior exportadora de café do mundo, onde Miguel, meu avô, tinha a relevante função de desembaraçar os milhares de sacos de café que eram exportados em navios lotados exclusivamente com carga brasileira. Tempos mais tarde, João saiu da sociedade, comprou um banco e investiu em ações do Banco do Brasil. Carminha Jabour tornou-se a Irmã Zoé, freira da Irmandade São Vicente de Paulo, que liderou movimentos de benemerência e assistência social voltada a mendigos e idosos no conhecido Dispensário dos Pobres da Imaculada Conceição, que funcionou por muitos anos na Rua Muniz Barreto, em Botafogo e construiu a cidade dos velhinhos em Jacarepaguá.

Miguel, meu avô, casou-se com Dulce, filha do coronel do Corpo de Bombeiros, Carlos Bueno e Octávia Ormerod, e teve 3 filhas: Naid Maria, Maria Said e Maria Thereza. Maria Said, minha mãe, casou-se com o Dr. Salim Fiod Neto.

A FAMÍLIA FIOD

O patriarca Salim Fiod veio do Líbano em um navio chamado Mafalda e desembarcou em Santos, litoral paulista, com o filho Assad Salim. Eles nasceram numa pequena cidade libanesa chamada Kafar Hatta, bem perto de Trípoli. Instalaram-se em Igarapava, no interior de São Paulo, onde Assad comprou uma máquina usada para beneficiamento de arroz. Assad foi casado com a prima Aziza Cury e nasceram 3 filhos: Newton, Neusa e Salim, do qual eu sou filho. Assad, era Cristão Ortodoxo, mas aqui conheceu um pastor da Igreja Protestante e tornou-se também pastor desta entidade religiosa.

É curioso explicar por que meu pai recebeu o nome de Salim Fiod Neto, uma vez que Salim era o sobrenome da família e os seus irmãos chamavam-se Newton Salim e Neusa Salim. O fato é que Assad pediu ao pai, Salim Fiod, para registrar seu filho, com o nome de Nelson. No caminho do cartório, ele resolveu fazer uma auto-homenagem e registrou o neto com o nome de Salim Fiod Neto. O Dr. Salim formou-se em medicina e tornou-se professor catedrático da Universidade Federal do Rio de Janeiro e médico do Banco do Brasil. Casou-se com Maria Said e tiveram dois filhos: eu, Miguel e Nelson. Com muito orgulho sou casado com a Suzana, tivemos dois filhos, Miguel, casado com a Caroline e o André com a Patrícia, sendo que o casal nos deu duas netas, Sofia e Isabele.

Não posso atribuir apenas a coincidência encontro das famílias Jabour e Fiod, por terem origem libanesa, terem nascido em Trípoli, serem cristãos ortodoxos, virem para o Brasil na mesma época, começaram suas vidas com beneficiamento de arroz e terem se encontrado no Rio de Janeiro.

Maktub – estava escrito, ou melhor, tinha que acontecer.

foto: pinterest/ Luiz Carlos Lourenço

 

Irmã Zoé participa de missa na Cidade dos Velhinhos, criada por ela na Zona Oeste.

Graduandos em Licenciatura em Letras: Português-Árabe.- UFRJ

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