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O Líbano através dos Séculos

A história do povo libanês se confunde com a história da humanidade e contém descrições que remontam a mais de 6000 anos a.C.. Conhecer a história do Líbano não é uma tarefa simples dada a longínqua linha do tempo que separa as gerações contemporâneas dos seus antepassados. Estas dificuldades são sobremaneira reduzidas quando encontramos obras de historiadores que se encarregaram de registar e imortalizar a saga libanesa.

Neste sentido, venho reverenciar a memória do saudoso Padre Dr. Emile Eddé, que em muito contribuiu para a construção deste legado histórico junto à comunidade libanesa no Brasil. O sacerdote maronita nasceu em Biblos (Jbeil), estudou na Universidade de Salamanca, Espanha, com Mestrado e Doutorado em Teologia na Universidade de Paris. Dotado de uma capacidade literária diferenciada, publicou vários livros e mais de 800 artigos, em 4 diferentes línguas, sendo repetidamente premiado por suas obras.

Membro da Academia do Pensamento Libanês e da Ordem dos Velhos Jornalistas do Brasil, foi Professor de Teologia na Universidade Saint Joseph, em Beirute e na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ). Padre Emile foi Pároco nas Missões Maronitas em Buenos Aires, em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde criou a revista “A Missão”.

Dentre seus livros, estão: “Os Fenícios e o descobrimento da América”, 1969, em árabe; “Biblos, Berço do Alfabeto”, 1973, em árabe; “Renovação das Estruturas Paroquiais da Igreja Maronita”, 1977, em francês;

“João Paulo II no Brasil”, 1980, em francês; “A Igreja Maronita e o Líbano” – vol I, 1989, em português; “O Líbano na História”, 1993, em espanhol; “Cristo, Libertador da Mulher”, 1997, em árabe; “A família Eddé na História”, 2000, em árabe; “O Líbano Através dos Séculos” vols I e II, 2001, em português.

Na obra “O Líbano Através dos Séculos”, editada no Brasil, o autor nos oferece elementos históricos seculares, partindo da chegada dos Cananeus à costa libanesa, populações a quem os gregos chamavam de Fenícios, e suas futuras contribuições intelectuais e civilizatórias que disseminaram a cultura Fenícia para o mundo. A publicação permeia as várias invasões territoriais sofrida pelos Amoritas ou Babilônios,

Assírios, Neobabilônicos, Persas, Alexandre, o Grande, da Macedônia, Romanos, Bizantinos, Turco-Otomanos (1516-1918), o Protetorado Francês (1918), o Grande Líbano se transformando na República Libanesa (1926) e a Independência do Líbano (22/11/1943), culminando com uma resenha contemporânea da história do país no final do século XX.

Segundo alguns historiadores, a palavra Líbano significa “a montanha dos perfumes”, com referência ao perfume exalado pela árvore do Líbano (derivado do árabe al-lubán – “o leite”) planta também chamada Franquincenso (“verdadeiro incenso”), que se espalha em abundância perfumando a região.

Para outros autores, Líbano seria o nome de um herói divinizado; para outros ainda, na versão que parece a mais correta, seria “a montanha branca”, em alusão às altas montanhas permanentemente cobertas de neve, uma característica que distingue aquela região dos demais países do oriente próximo. O Líbano, localizado entre 33 e 35 graus de latitude Norte e entre 33 e 34 de longitude Oeste, tem formato retangular medindo cerca de 200 Km x 50 Km e suas limitadas dimensões territoriais são manifestamente desproporcionais à sua grandeza histórica e cultural. A geografia territorial é composta de uma planície costeira, uma cadeia de montanhas denominada Monte Líbano, um planalto central, a Bekaa, e uma segunda cordilheira, o Anti-Líbano. Nas cercanias dos mais altos cumes (Kornet Es-Saude e Darh A-Kadib, com 3090 e 3000 m de altitude, segue erguida uma floresta com os últimos remanescentes dos milenares de Cedros do Líbano.

Padre Emile nos ensinou que a idade Paleolítica, 80.000 anos a.C. marca a primeira presença humana no Líbano (sítio de Aadloun); Que as grutas do vale do Narh el-Kalb, de Ksar Akil (Antelias) e de Abu Halka (Tripoli) datam da idade Paleolítica Média (45.000 anos a.C.); Que a mais antiga cidade libanesa, Biblos (Jbeil) data de 6.000 anos a.C., na idade Neolítica, final dos anos pré-históricos, época em que os homens deixaram as grutas para iniciarem construções em pedra; Que foi na civilização pré-urbana (3.200-3.000 a.c.) que surgiram os padrões de casas libanesas retangulares, circulares e absidal, com 3 cômodos; Que na época da civilização urbana (3.000-2.500 a.C.) os Fenícios ocuparam a costa libanesa e a região meridional da Síria, coincidindo com a fundação das cidades-estados mercantes (Tiro – 2750 a.C.); Que, já no século XVIII ou XVII a.C., os Fenícios deram uma contribuição definitiva para a humanidade criando o alfabeto. A comunicação por sinais pseudo-hieroglíficos da época continha uma infinidade de desenhos simbólicos e pictogramas e foram substituídos por 22 símbolos fonéticos convencionados, dando origem à escrita alfabética.

A partir de então, pela simplicidade cartesiana, o alfabeto Fenício foi adotado universalmente.

Com suas embarcações construídas com cedro, a habilidade fenícia para navegação facilitou a expansão e o desenvolvimento do comércio por toda região mediterrânea, onde os fenícios criaram diversas colônias e se expandiram também para outras regiões e continentes, havendo evidencias inclusive da presença Fenícia no Brasil. A colônia de maior sucesso foi a cidade autônoma de Cartago que, com a criação posterior de Roma, rivalizou com o Império Romano pelo controle do mediterrâneo.

Conhecimentos em astronomia e matemática foram desenvolvidos para auxiliar na navegação. A influência cultural Fenícia nos povos da antiguidade pode ser simbolizada pela sua convergência histórica com famosos personagens gregos como Zenon, Pitágoras, Thales, Euclides, Píndaro e Porfírio. O ensino superior no Líbano se iniciou no ano 222 d.C., com a fundação da Escola de Direito de Beirute, seguida séculos mais tarde da Universidade Americana de Beirute, em 1866 e com os Padres Jesuítas que criaram a Universidade Francesa Saint Joseph, em 1875.

Da sua permanência no Brasil, Padre Emile deixou muitas saudades entre seus admiradores e amigos, tanto na Paróquia como nos meios Acadêmicos, que se habituaram com o seu constante entusiasmo na defesa e na divulgação da história da cultura libanesa. Esta “Missão” (como a própria revista que criou), ele exercia com maestria e naturalidade, de forma sincronizada com as suas atividades eclesiásticas. Padre Emile partiu do Brasil e deste mundo, mas não nos deixa desamparados, uma vez que sua obra literária permanece cumprindo o papel educador do autor, perpetuando a riqueza e a glória da história do Líbano Através dos Séculos.

Dr. Mauricio Younes-Ibrahim

é médico pela Faculdade de Medicina de Petrópolis, possui Mestrado em Nefrologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e doutorado pela Université Pierre et Marie Currie (França). Membro Titular da Academia Líbano-brasileira de Letras, Artes e Ciências e da Academia Nacional de Medicina

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