O poema é uma floresta encantada. Tem ritmo, música e todas as flores, árvores sonolentas ou acordadas, folhas de raiz e unidade. Cipós e sonhos, metáforas e símbolos ou arbustos sonoros de orvalho, cristais de fábulas nadando como peixes no lago.
O poema é uma floresta de sentidos, que se abrem como clareiras ao sol . E é como volto à infância, ao menino,
que inventava esconderijos nalguma árvore, ou aprendeu que as árvores falam e veem.
E me vem à memória, de quando na escola fui sendo alfabetizado , também as árvores se alfabetizavam naquelas letras sequiosas. E ao ler, comecei a verificar que o mundo
era palavra, que havia também um mundo dentro delas e era preciso desvendar o mistério, a floresta encantada de uma imaginação que não dorme e se ergue com o vento.
E é como fiz , desde então, camaradagem com o vento que sabe ouvir e carregar sementes , que emigram para uma terra nova.
Recordo a figura de meu pai Sady, negociante e que me trazia livros, enciclopédias, coleções de Shakespeare, Macha-
do, José de Alencar , Tesouro da Juventude, Mundo Pitoresco.
E isso se mesclava à imaginação do universo que surgia e se enredava nos silvestres troncos de versos ou rimas ou signos.
E como anotou Jorge de Lima, poeta injustamente esquecido:
“O céu jamais me dê a tentação funesta/ de adormecer ao léu,
na lomba da floresta”. E adiante Jorge diz que o sono nos espia. Sim, o sono das árvores. Que a floresta do poema é insondável e não para de acordar.