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ONG libanesa conserta os estragos após os ataques israelenses

“Dano colateral”, lamenta Zeina Mohanna, da ONG libanesa Amel. Em meio às paredes arrombadas, operários inspecionam os estragos em um centro de serviços voltado a mulheres e crianças, após a devastadora campanha de bombardeios israelenses na periferia ao sul de Beirute.

“Há muito a fazer para que o centro volte a funcionar”, reconhece Mohanna, que faz parte da direção da Amel Association International.

No bairro pobre de Hay Selom, o centro fica diante de um imóvel atingido por um ataque israelense.

Antes do cessar-fogo que entrou em vigor em 27 de novembro passado, o exército israelense, em guerra com o Hezbollah pró-iraniano, bombardeou constantemente desde o fim de setembro a periferia ao sul de Beirute, um dos bastiões do grupo, multiplicando os avisos de evacuação para os moradores.

Aproveitando agora a calma precária instaurada pela trégua, a ONG Amel – humanitária e apolítica desde sua criação em 1979 durante a guerra civil (1975-1990) – tenta retomar suas atividades.

Dos 40 centros da Amel que prestam serviços sociais e médicos às populações mais vulneráveis no Líbano, 13 foram danificados, informa Mohanna.

Nas instalações em Hay Selom, desenhos infantis decoram as paredes em cores vivas. Trechos do teto ruíram e restam pedaços pontiagudos de vidros quebrados nas janelas. Em uma parede decorada com nuvens e borboletas, lê-se a inscrição “Sonhar grande”.

“Tentar protegê-los”

Em um Líbano martirizado por crises econômicas e humanitárias nos últimos anos, a Amel tem estado em todas as frentes. Após a explosão no porto de Beirute em 2020, seu fundador, o médico Kamel Mohanna, estava entre as personalidades que o presidente francês Emmanuel Macron encontrou no Líbano.

Diante das hostilidades entre Israel e o Hezbollah, a ONG comunicou oficialmente à ONU as localizações de todos os seus centros para “tentar protegê-los”, segundo Mohanna. Mas o centro em Hay Selom, uma clínica da Amel bem próxima e outros locais dedicados aos trabalhadores migrantes no bairro de Chiyah foram danificados por bombardeios israelenses sobre as sucursais da Al-Qard al-Hassan, diz ele.

O exército israelense indicara que iria visar essa sociedade de microcrédito afiliada ao Hezbollah, acusando-a de “financiar diretamente as atividades terroristas” da milícia xiita. Quase trinta endereços da sociedade foram bombardeados em outubro.

Em um país em plena derrocada econômica, especialistas afirmam que essa instituição financeira também representava um alento para as magras poupanças da comunidade xiita e outras parcelas desfavorecidas.

“Os bombardeios israelenses massivos visando a Al-Qard al-Hassan causaram estragos consideráveis a imóveis residenciais e infraestruturas civis no entorno”, ressaltou a ONU em outubro.

“Exauridos”

O centro da Amel em Hay Selom acolhia diariamente uma centena de crianças e 40 mulheres, segundo sua diretora, Sokna El-Hawli. Ele era voltado a mulheres vítimas de violências de gênero e também acolhia projetos voltados às crianças, incluindo um em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

“Na noite em que soube que haveria um ataque perto do centro (…), eu chorei e não consegui dormir”, relata El-Hawli. “Os habitantes do bairro realmente precisam do centro”, acrescenta essa mulher que teve que abandonar sua casa devido aos bombardeios.

Restaurar “espaços seguros para as crianças no seio de sua comunidade é vital”, declarou o Unicef à AFP.

Em Chiyah são feitas inspeções em outra estrutura da Amel, que presta serviços aos trabalhadores migrantes. Em um terraço, metade da armação do telhado ruiu e um sofá com douraduras extravagantes, que foi lançado da casa vizinha pela aragem de uma explosão, reina sobre os escombros.

“Nós nos sentimos exauridos”, admite Nour Khazaal, uma assistente social que trabalha no local. “Como passamos a maior parte do tempo aqui, é como se fosse nossa casa”, diz ela.

Como a maioria de seus vizinhos, ela também teve de fugir de sua casa em Chiyah, com seu bebê de um ano. Mas, apesar de tudo, ela mantém o otimismo: “Eu espero que o centro seja dez ou cem vezes melhor do que antes, assim que for consertado”.

*Matéria veiculada na imprensa internacional em 4 de dezembro de 2024.

Kamel Mohanna, um libanês ilustre

Formado em medicina na Universidade de Tours, obteve o diploma em pediatria na Universidade de Grenoble, ambas na França, e é coordenador-geral das Redes de ONGs Árabes e Libanesas, professor na Universidade Libanesa e representante das ONGs no Alto Conselho de Saúde do Líbano.

Fundou a Amel, que desde 2016 é indicada ao Prêmio Nobel da Paz. Essa organização não sectária, com 1.300 funcionários e voluntários, 40 centros e unidades móveis, tem um papel pioneiro na defesa da causa palestina e de parcerias justas entre sociedades civis.

Como especialista de renome em saúde e serviços humanitários, contribuiu anteriormente em diversos processos internacionais com a Organização Mundial de Saúde e participou ativamente na Cúpula Mundial Humanitária da ONU em 2016, em Istambul.

Condecorado com a Legião de Honra da França, é também cavaleiro da Ordem Nacional do Cedro do Líbano. Sua biografia, “The Epic of Difficult Choices”, foi publicada em árabe, inglês e francês.

Tradução: Thaïs Costa
fotos: Anwar Amro
 
Terraço em escombros de um centro da Amel na periferia ao sul de Beirute
Membros da Amel em um de seus centros na periferia ao sul de Beirute, o qual foi atingido durante um ataque israelense por perto
© 2024 AFP *Matéria veiculada na imprensa internacional em 4 de dezembro de 2024. Tradução: Thaïs Costa

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