No Líbano, há uma guloseima que, embora discreta, se esconde nas profundezas da memória afetiva do povo. Quando surge, ela traz consigo uma erupção de nostalgia: o “Mlabas”.
De origem italiana, o “Mlabas” (ملبس – palavra árabe que significa “revestido”) são amêndoas cobertas com açúcar, conhecidas como drágeas ou confeitos de amêndoa da Jordânia, e envoltas em uma camada de açúcar colorido, geralmente em tons suaves de pastel.
O “Mlabas” é tradicionalmente oferecido como presente de casamento. Nesse contexto, a amêndoa “amarga” e o açúcar “doce” simbolizam a dualidade da vida: o amargor das dificuldades e a doçura do amor. Esses confeitos são tipicamente agrupados em números simbólicos, como o conjunto de cinco, que representa saúde, longevidade, felicidade, fertilidade e riqueza. No Oriente Médio, o “Mlabas” é considerado um doce afrodisíaco, e por isso está sempre presente nas celebrações de casamento, disponível tanto para os noivos quanto para seus convidados.
A história do “Mlabas” remonta à Roma Antiga, onde se acredita que as amêndoas cobertas com mel eram preparadas por um padeiro e confeiteiro romano chamado Julius Dragatus. Essas guloseimas eram servidas em festas de nascimento e casamento, especialmente entre os nobres. O doce também é apreciado na França, onde é conhecido como Dragée, frequentemente com recheio de chocolate.
Nos casamentos da região, é comum que o arroz, tradicionalmente jogado nos noivos como sinal de bênção, seja substituído pelas drágeas de “Mlabas”. Elas simbolizam votos de prosperidade e felicidade para o novo lar. Além disso, nas celebrações de nascimentos, a família oferece os confeitos de “Mlabas” envoltos em saquinhos de cetim, como uma forma de desejar boas-vindas, saúde e prosperidade ao recém-nascido.
O “Mlabas” também é muito utilizado na decoração de bolos e outros doces. Produzido em diversos tamanhos, geralmente variando de 3 a 4 mm de diâmetro, ele é frequentemente incorporado à culinária, podendo ser torrado e utilizado em diversos pratos.
Em um instante de saudade profunda e imaginação, alguém, com um gesto quase subconsciente, coloca um punhado de drágeas no bolso do paletó, como se aquelas pequenas amêndoas revestidas de açúcar pudessem oferecer algum tipo de consolo. Devolvendo a caixa de “Mlabas” ao seu lugar, o olhar se perde na foto do amor perdido, que parece suspensa no tempo. Em sua mente, uma reflexão silenciosa surge, quase um suspiro: “Se você não demorar a voltar, eu posso te esperar por toda a minha vida.”
Nesse momento, a mente cria um elo entre o doce e a espera, transformando a saudade em poesia, onde cada drágea se torna um símbolo de esperança e desejo.
© Revista Libanus
fotos: ideecadeauoriginal/ anahita/ Pinterest/ iletgourmand/ confiserie-plantagenet/ Maison Braquier





2 Comments
Uma postagem plena em afeto!
“Mlabas”, a doce lembrança, a saudade que se traduz no amor que fica, a esperança otimista!
Adorei !
Obrigado pelo seu emocionante comentário, Cristina.