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Hamra: encontro vivo de história, cultura e tolerância do icônico bairro de Beirute

No coração de Beirute, a Rua Hamra é muito mais do que um simples endereço. Sua história remonta ao século XV, quando, segundo a lenda, a tribo drusa “bani Talhouk” foi forçada a abandonar suas terras em Ras Beirute após um conflito com a tribo muçulmana “bani Hamra”. Essa vitória deu origem às famílias tradicionais de Beirute, como Itani, Lubben e Chatila, cujas raízes se misturam ao solo desta rua icônica. Embora esse episódio pertença a um passado remoto, ele marca o início de uma trajetória de diversidade que moldaria Hamra como um microcosmo de coexistência.

Com o passar dos séculos, Hamra deixou de ser uma simples vala para se transformar no epicentro cultural e intelectual da capital libanesa. Na década de 1920, a modernização começou a tomar forma com edifícios como o emblemático Horse Shoe. As ruas adjacentes, como Bliss e Jeanne d’Arc, complementaram o crescimento de uma região que logo se tornaria um mosaico de influências locais e internacionais. Esse período foi apenas o início da metamorfose de Hamra em um espaço vibrante, onde tradição e inovação se entrelaçam.

Na segunda metade do século XX, Hamra consolidou sua reputação como um polo cultural. A rua tornou-se um reduto de livrarias, como a icônica “Antoine”, e de teatros, como o “Al-Madina”. Estudantes das universidades Americana de Beirute e Libanesa Americana criaram um caldeirão intelectual, onde ideias em árabe e inglês fluíam livremente. Cafés e bares se tornaram pontos de encontro, com paredes adornadas por retratos de figuras históricas como Mao Tse-Tung e Yasser Arafat.

Entre as muitas marcas visuais da rua, destaca-se o mural da diva Sabah, pintado pelo artista Yazan Halwani. Com seu olhar atemporal, Sabah observa os transeuntes e simboliza o espírito criativo que define Hamra. Nos cafés, como o Ta Marbouta, gerações se encontram para debater política, cultura e o futuro, perpetuando uma tradição de engajamento que transcende o tempo.

Hoje, Hamra é um símbolo de pluralismo e resistência cultural no Oriente Médio. Suas calçadas testemunham um cotidiano onde diferenças religiosas, políticas e sectárias são relegadas ao fundo, em favor de uma convivência pautada pela tolerância. Seja no som das conversas poliglotas, nos aromas das cozinhas ou nos ecos das manifestações artísticas, Hamra pulsa como uma artéria viva de Beirute.

Olhar para Hamra é enxergar a alma de uma cidade – suas cicatrizes, sua beleza e sua resiliência. É um lugar onde passado e presente coexistem, enquanto o futuro se desenha em cada esquina. Para aqueles que percorrem seus 1.300 metros, Hamra não é apenas um endereço; é um espaço que desafia o tempo, um símbolo do que Beirute tem de mais humano: sua capacidade infinita de se reinventar.

© Revista Libanus

fotos: pinterest/zicohouse/ Executive Magazine/ MEE- Changiz M. Varzi/oldbeirut/ greg demarque @demarque
Equipe da Revista e do Blog

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