O transporte no Líbano não é apenas uma ferramenta de locomoção, mas um reflexo vibrante da história, cultura e adaptabilidade de seu povo. De ícones culturais como o Cedro e a música de Fairuz, até o onipresente Mercedes-Benz, o transporte libanês mescla tradição e modernidade, contando histórias de resiliência e reinvenção.
Historicamente, o Líbano possuía um dos sistemas de transporte público mais sofisticados do Oriente Médio. Beirute conectava-se eficientemente a cidades como Saida, Trípoli e Damasco por bondes, ônibus e ferrovias, e até projetos para um metrô estavam em discussão. Porém, a guerra civil de 1975 trouxe o colapso desse progresso. Em meio à fragmentação do sistema, surgiram soluções criativas para atender às necessidades da população, como o “Taxi-Service”, precursor do modelo de táxis compartilhados que inspiraria plataformas modernas como o Uber.
O “Taxi-Service” — ainda operando com cerca de 5.000 veículos registrados em todo o país — destaca-se como um exemplo de inovação local. Na maior parte, esses táxis são Mercedes-Benz, com o clássico modelo “Ponton 180” simbolizando a era dourada dos anos 1950. Sua durabilidade e confiabilidade o tornaram o preferido dos motoristas. Embora alguns desses veículos ainda circulem pelas ruas de Beirute, o foco agora se volta para a integração entre tradição e tecnologia.
A chegada dos aplicativos de transporte, como Uber e Careem, transformou a forma como os libaneses se deslocam, especialmente nas grandes cidades. Essas plataformas oferecem alternativas rápidas e acessíveis, com o benefício adicional de segurança e rastreabilidade, algo particularmente valorizado em um contexto de infraestrutura pública limitada. Cerca de 25% dos usuários de transporte em Beirute já utilizam serviços digitais regularmente, demonstrando uma mudança cultural e tecnológica significativa.
Iniciativas inovadoras como o “Banet Taxi”, lançado em 2009, também destacam a criatividade do setor de transporte no Líbano. Exclusiva para mulheres e dirigida por motoristas do mesmo gênero, a frota rosa trouxe mais segurança e autonomia para passageiras em um ambiente tradicionalmente dominado por homens. Embora a popularidade do projeto tenha diminuído com a concorrência de aplicativos globais, ele permanece um marco do espírito empreendedor libanês.
Ainda assim, o transporte no Líbano mantém traços nostálgicos. É comum ouvir motoristas chamando passageiros em áreas movimentadas como Daoura: “Service Aa Zahlé, Yalla!” (“Táxi para Zahlé, vamos!”), conectando a efervescência das ruas ao passado. Essa convivência entre o antigo e o novo cria um mosaico único, onde bondes e trens abandonados lembram os sonhos de uma era visionária, enquanto as buzinas dos Mercedes e os alertas de aplicativos sinalizam um presente em constante transformação.
Com seus desafios e criatividade, o Líbano continua a inspirar nações ao equilibrar memória e modernidade, mostrando que o futuro pode ser construído sem abandonar as raízes.
© Revista Libanus
3 Comments
Libanes de corpo, alma e espírito.
Isso mesmo, João. Obrigado pela leitura.
Obrigado, João.